Coronavírus

Portugal ainda não cumpre critérios para ‘sair de casa’

Portugal ainda não cumpre critérios para ‘sair de casa’
Foto TIAGO MIRANDA

Segundo as regras da Comissão Europeia para reduzir o confinamento, os portugueses ainda vão ter de esperar. Até ao início de maio, ou para além disso?

Nenhum país europeu deve começar a regressar à vida normal sem garantir o cumprimento de três critérios essenciais, definidos esta semana pela Comissão Europeia: redução sustentada da infeção, cuidados médicos suficientes e monitorização constante, sobretudo com testes em larga escala. Portugal não cumpre na íntegra nenhum dos requisitos, e os portugueses vão ter de permanecer em casa por mais algum tempo.

Para o virologista Pedro Simas, investigador do Instituto de Medicina Molecular, as próximas duas semanas poderão ser decisivas. “Esperaria até ao final deste mês para ver se a evolução do planalto é sustentada ao longo de mais tempo, como refere a Comissão Europeia. Acho que será difícil baixar muito mais, mas se se mantiver como está é positivo, pois não ultrapassa a capacidade de resposta do SNS.”

Os ventiladores são um dos pontos críticos, e o país está a equipar-se. Além dos cerca de 1200 no SNS, já recebeu mais de 100 da China, conta com 400 fora da rede pública e aguarda a entrega de 508 comprados, 65 entregues por estes dias. Agora “é preciso garantir resposta a um possível aumento de doentes covid, enquanto volta a ter recursos para responder aos restantes”, defende o especialista.

Pneumologista e consultor da Direção-Geral da Saúde, Filipe Froes sublinha que “os últimos dados apontam para uma estabilização dos internamentos hospitalares e em Cuidados Intensivos, menos dependentes da variabilidade decorrente do número de testes diários, população testada, regiões e efeito fim de semana”. E, na área das análises, Portugal está entre os melhores exemplos, com 208 mil testes desde 1 de março, acima da Coreia do Sul e apenas um degrau abaixo da Alemanha, segundo o site de estatísticas Worldmeters. Ainda assim, “um dia de incumprimento arruína 14 dias de sucesso”, alerta.

E do sucesso faz parte a prestação de cuidados. “O SNS tem revelado capacidade para dar resposta a todas as necessidades, mantendo ainda reserva para um acréscimo de casos. A fase seguinte vai obrigar-nos a um novo esforço, para um regresso a uma situação mais próxima da normalidade, mas mantendo circuitos covid-19 e uma atenção extra na vigilância e no diagnóstico precoce.”

Os dois especialistas só não estão de acordo quanto à avaliação da imunidade. Pedro Simas está em total desacordo com a Comissão Europeia por esta considerar os testes serológicos (que testam a imunidade ao novo vírus) “complementares”: “Tanto os testes de deteção como os serológicos são vitais para conseguir levantar restrições e manter o vírus controlado. Só é possível controlar o planalto se soubermos o que está a acontecer.”

Embora considere estes testes “úteis na identificação dos indivíduos com ‘vacina natural’”, Filipe Froes tem um palpite: “Este valor em Portugal e na generalidade dos países europeus será previsivelmente inferior a 5% ou 10%, sem impacto significativo numa eventual segunda onda.” E sublinha: “Vai exigir a manutenção dos sistemas de vigilância, elevada suspeição clínica e uma resposta laboratorial elevada e pronta.”

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