A discussão sobre a necessidade de “achatar a curva” tem tanto tempo quanto a pandemia do novo coronavírus em Portugal. E se a “pressão na mola” referida por Marcelo Rebelo de Sousa parece estar a surtir efeito, há uma curva que não quer achatar: as unidades de cuidados intensivos continuam a encher-se de doentes com covid-19. Na quarta-feira passada havia 61 pacientes lá internados, enquanto esta quarta-feira o número é de 230. Significa um aumento de 277% no espaço de uma semana. E significa também a exigência de mais ventiladores.
Na habitual conferência de imprensa de atualização dos números, o secretário de Estado da Saúde fez as contas: o país tem 1.142 ventiladores, 525 em unidades de cuidados intensivos, 480 em blocos operatórios, e uma capacidade de expansão de 134. Além deles, o Governo comprou 535 outros e têm chegado doações de entidades ou a título individual. “Pretendemos duplicar a nossa capacidade de ventilação em Portugal”, afirma António Lacerda Sales. Não sem avisar: “temos que estar sempre preparados para o pior e esperar o melhor.”
Ao lado, Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, reforçou o aumento da capacidade de resposta, mas deu uma explicação para o crescimento dos doentes críticos. “Esse número tem de ser observado de acordo com a estrutura etária da população que está a ser internada.” Graça Freitas lembrou que Portugal é “um país envelhecido” e que os idosos, cujo risco de contágio é igual ao de qualquer outra pessoa, têm, no entanto, “um risco acrescido de complicar” o quadro clínico após a infeção. Ainda assim, a responsável garantiu que as autoridades estão atentas e que o número de doentes internados nos cuidados intensivos carece de maior observação dos especialistas. “Temos de aprofundar a análise.”
Sobre a curva principal, a de infeções, Lacerda Sales avisa que “ainda é cedo para avaliar a tendência” de abrandamento que se tem registado. “O grau de incerteza é grande”, explicou, ainda que com uma nota de esperança. “Temos de confiar que [as medidas de contenção] foram bem tomadas, no tempo certo, e provavelmente alguns desses números estão a dizer-nos isso”. O Ministério da Saúde está “disponível para não abrandar já estas medidas”.
69 mil testes feitos em março e mais 500 profissionais na linha SNS24
Numa altura em que o país está perto de ver o estado de emergência estendido por mais 15 dias, o secretário de Estado da Saúde pôs a tónica no orgulho. “Muito nos deve orgulhar o nosso Serviço Nacional de Saúde [SNS], uma das maiores conquistas dos portugueses e uma garantia de que ninguém fica para trás”, elogiou António Lacerda Sales.
O responsável definiu o momento da pandemia em Portugal como “um tempo de adaptação”. “Os portugueses não estavam preparados para o isolamento (...), o SNS também não estava programado para receber uma pandemia desta dimensão”, mas, garante Lacerda Sales, “quer num quer noutro caso, a capacidade de adaptação tem sido extraordinária”. Porém, ainda não suficiente para deixar de apertar a mola. “Continua crucial que as pessoas não adoeçam todas ao mesmo tempo e que reduzam os contactos sociais, mesmo com a chegada da Páscoa.”
Em paralelo, o responsável do Governo contabilizou o aumento dos testes, uma das medidas de contenção do novo coronavírus. “Analisámos mais de 69 mil amostras desde 1 março. Na semana passada, de segunda a domingo, foram quase 40 mil amostras. Mais do dobro da semana que a antecedeu”, enumerou.
O secretário de Estado elogiou ainda outra adaptação. “Uma das ferramentas que se transformou foi a linha SNS24, que atende mais de 18 mil chamadas por dia.” Antes da pandemia, a linha atendia cinco mil. E também antes dela, “havia 950 profissionais de saúde a trabalhar na linha. Agora há mais de 1400.”
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