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Coronavírus

“Imunidade de grupo”, ou como vacinar um povo com vírus vivos

Boris Johnson ladeado pelos cientistas Chris Whitty (esquerda) e Patrick Vallance, que o assessoram no combate à pandemia de covid-19
Boris Johnson ladeado pelos cientistas Chris Whitty (esquerda) e Patrick Vallance, que o assessoram no combate à pandemia de covid-19
WPA Pool

A estratégia do Reino Unido para lutar contra a pandemia divergiu da de muitos países europeus. O foco está em proteger grupos vulneráveis e deixar que a infeção se generalize entre os que terão sintomas ligeiros. Embora cientificamente válida, tem riscos grandes em termos de vidas perdidas. O Expresso falou com especialistas para perceber o que está em causa

“Imunidade de grupo”, ou como vacinar um povo com vírus vivos

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

Quando ouviu falar do plano de Boris Johnson para criar “imunidade de grupo” contra o coronavírus no Reino Unido, o epidemiologista William Hanage pensou “que era sátira”, escreve o próprio no diário “The Guardian”. A peculiar abordagem do primeiro-ministro britânico, distinta da dos demais países (que apostam na quarentena ou isolamento), baseava-se em proteger os mais vulneráveis e permitir que o resto da população apanhasse o vírus, já que a maioria dos doentes tem apenas sintomas ligeiros.

Críticas de cientistas levaram, porém, a maior prudência. Esta segunda-feira o primeiro-ministro pediu aos cidadãos que evitem contactos não-essenciais, desaconselhou a frequência de pubs e restaurantes, teatros e cinemas e decretou o cancelamento de consultas não-urgentes. Também aconselhou famílias em que um membro esteja suspeito de infeção a observarem rigorosa quarentena de 14 dias.

Uma vez que ter uma doença cria certa capacidade de defesa no corpo (por isso há maleitas que só se apanha uma vez), a partir de uma certa taxa de infeção começa a gerar-se imunidade grupal. O que evita, por exemplo, que um segundo surto do vírus seja tão mau como o primeiro, em que, dado que nunca ninguém o contraiu antes, não há qualquer imunidade. Os países que tomam medidas extremas vão ser, reza esta lógica, mais afetados num ressurgir do vírus.

Em vez de decretar encerramentos, Johnson seguiu o conselho do seu assessor científico, Patrick Vallance – que anteviu 60% de infetados – e avisou a população de que ia “perder entes queridos antes de tempo” na “pior crise de saúde pública de uma geração”. Apesar de a liga inglesa de futebol ter sido suspensa e de as eleições municipais terem sido adiadas um ano, não houve fecho de escolas. Quem tem sintomas ligeiros é aconselhado a ficar em casa sete dias (embora o período de incubação do coronavírus seja de 14) e só se fazem testes aos casos de sintomas graves, no hospital.

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