Quando ouviu falar do plano de Boris Johnson para criar “imunidade de grupo” contra o coronavírus no Reino Unido, o epidemiologista William Hanage pensou “que era sátira”, escreve o próprio no diário “The Guardian”. A peculiar abordagem do primeiro-ministro britânico, distinta da dos demais países (que apostam na quarentena ou isolamento), baseava-se em proteger os mais vulneráveis e permitir que o resto da população apanhasse o vírus, já que a maioria dos doentes tem apenas sintomas ligeiros.
Críticas de cientistas levaram, porém, a maior prudência. Esta segunda-feira o primeiro-ministro pediu aos cidadãos que evitem contactos não-essenciais, desaconselhou a frequência de pubs e restaurantes, teatros e cinemas e decretou o cancelamento de consultas não-urgentes. Também aconselhou famílias em que um membro esteja suspeito de infeção a observarem rigorosa quarentena de 14 dias.
Uma vez que ter uma doença cria certa capacidade de defesa no corpo (por isso há maleitas que só se apanha uma vez), a partir de uma certa taxa de infeção começa a gerar-se imunidade grupal. O que evita, por exemplo, que um segundo surto do vírus seja tão mau como o primeiro, em que, dado que nunca ninguém o contraiu antes, não há qualquer imunidade. Os países que tomam medidas extremas vão ser, reza esta lógica, mais afetados num ressurgir do vírus.
Em vez de decretar encerramentos, Johnson seguiu o conselho do seu assessor científico, Patrick Vallance – que anteviu 60% de infetados – e avisou a população de que ia “perder entes queridos antes de tempo” na “pior crise de saúde pública de uma geração”. Apesar de a liga inglesa de futebol ter sido suspensa e de as eleições municipais terem sido adiadas um ano, não houve fecho de escolas. Quem tem sintomas ligeiros é aconselhado a ficar em casa sete dias (embora o período de incubação do coronavírus seja de 14) e só se fazem testes aos casos de sintomas graves, no hospital.
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