Abusos

"Inverosimilhança da denúncia": padre de Lisboa retoma funções depois de afastamento por suspeita de abuso

"Inverosimilhança da denúncia": padre de Lisboa retoma funções depois de afastamento por suspeita de abuso
Horacio Villalobos/Getty Images

Mário Rui Pedras considera-se vítima de uma injustiça e anuncia que vai procurar “vias de reparação”. E deixa críticas à Comissão Independente, mas também à comissão diocesana de Lisboa

"Inverosimilhança da denúncia": padre de Lisboa retoma funções depois de afastamento por suspeita de abuso

Eunice Lourenço

Editora de Política

O padre Mário Rui Pedras, um dos quatro padres de Lisboa afastados preventivamente do exercício público do sacerdócio por suspeitas de abuso sexual de menores, vai voltar ao desempenho das suas funções nas paróquias de S. Nicolau e de Santa Maria Madalena, na Baixa de Lisboa. "No dia 12 de Junho, o instrutor da investigação, deu por finda a averiguação prévia e dada a inverosimilhança da denúncia, propôs ao Bispo que fosse levantado o ‘afastamento preventivo’. Medida justa que ontem, dia 14 de Junho, foi aplicada pelo Patriarca de Lisboa", anuncia o próprio num comunicado publicado nas redes sociais.

A notícia do fim do afastamento preventivo deste padre foi dada inicialmente pela Renascença, citando a carta que depois foi divulgada pela paróquia e pelo próprio sacerdote. “Sou uma vítima inocente de uma difamação anónima. A denúncia que, cobardemente, me atingiu, foi a de ter cometido crimes terríveis. Porém, eu não os cometi. Ainda assim, fui afastado preventivamente e sofri uma gravíssima injustiça. As provações são aliviadas pela certeza de Deus me amar e por Lhe oferecer as dores, transformando assim o enorme sofrimento em força espiritual. A ofensa deve ser reparada pela atestação da verdade”, escreve o padre Mário Rui Pedras, apresentado durante anos por André Ventura, do Chega, como seu orientador espiritual.

Críticas às comissões

A justiça foi reposta, mas o dano manter-se-á. Tudo por obra de um qualquer autor de uma denúncia cobarde, feita de forma anónima e totalmente falsa. O autor dessa calúnia fica entregue ao cuidado e ao juízo misericordioso de Deus", prossegue o sacerdote, que deixa críticas tanto à comissão independente que em fevereiro apresentou um relatório sobre os casos de abuso sexual no seio da Igreja Católica como à comissão diocesana para proteção de menores, presidida pelo bispo auxiliar Américo Aguiar.

“A Comissão Independente recebeu e transmitiu a denúncia, fazendo de mera caixa de correio e dando ressonância à calúnia. Lavou as mãos como Pilatos, e integrou esta denúncia soez na listagem dos eventos que anunciou, de forma estridente e sensacionalista. O cenário montado e algumas intervenções públicas de membros da comissão, condicionaram os passos seguintes deste processo”, escreve Mário Rui Pedras.

A Comissão Diocesana cedeu à fortíssima pressão mediática. Não teve a ponderação exigida diante de uma denúncia anónima, difamatória e sem verosimilhança. Recomendou o meu afastamento do exercício público do ministério, insensível às consequências que daí derivariam inevitavelmente para mim”, acusa o sacerdote, que completa em dezembro 70 anos e foi ordenado em 1982.

“Compreenderão, certamente, que não me resigne perante esta enormidade e tente encontrar vias legais de reparação”, anuncia o sacerdote que recomeça no próximo domingo, dia 18, a celebrar missas publicamente.

A comissão de proteção de menores do Patriarcado de Lisboa apresentou, em março, ao cardeal Manuel Clemente quatro nomes de padres suspeitos de abusos sexuais de menores que vieram a ser afastados preventivamente de funções públicas. No mês passado, divulgou um comunicado em que apela “às vítimas ou testemunhas de abusos realmente ocorridos, protagonizados por sacerdotes no ativo, na área da Diocese de Lisboa, para que contactem esta Comissão Diocesana, a fim de colaborarem no apuramento da verdade dos factos e para se poderem tirar daí as consequências devidas”.

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