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Fundador da associação de vítimas dos abusos sexuais na Igreja: “A vergonha que a tenham eles, a nós compete-nos a coragem”

Fundador da associação de vítimas dos abusos sexuais na Igreja: “A vergonha que a tenham eles, a nós compete-nos a coragem”
NUNO FOX

António Grosso “graças a Deus” é ateu. “Foi graças a tudo o que me fizeram em nome de Deus que me tornei ateu”, conta um dos três fundadores da associação de vítimas e sobreviventes dos abusos sexuais na Igreja. Tinha apenas dez anos quando entrou no seminário, em Santarém, e o inferno começou. “[O padre] apertava-me, apalpava-me, enfiava-me a língua pela garganta dentro e depois dizia-me: ‘Vamos lá acabar com a marmelada que está na hora da oração’”, recorda. Um ano e meio depois foi expulso por ser uma “má companhia” para os colegas e foi parar ao colégio interno Refúgio da Mãe do Céu, na Cova da Iria. “O pedófilo era muito pior e os maus-tratos eram de elevada dureza. Era um homem sádico, tinha prazer em ver sofrer”, lembra António. Atualmente, aos 70 anos, garante: “Nunca me irei calar. Impróprio não é lembrar, impróprio é deixar esquecer”

Como nasceu e quem fez nascer esta Associação de Vítimas e Sobreviventes dos Abusos Sexuais na Igreja?
Ainda está numa fase muito embrionária. Nasceu a partir da indignação que sentimos face ao silêncio demorado e da reação revoltante das autoridades eclesiásticas portuguesas perante o relatório da Comissão Independente. As mais de 500 vítimas que se prestaram a entregar os seus depoimentos – e eu fui uma delas – deram alguma coragem a outras tantas pessoas que, se a Comissão Independente fizesse uma segunda ronda, tenho a certeza que viriam a público partilhar os seus traumas.

A associação chama-se “Coração Silenciado”. A missão é dar voz a tantos corações silenciados e ser um porto seguro para que as vítimas se sintam à vontade para falar?
O primeiro objetivo é responder à Igreja e chegar à fala com as autoridades eclesiásticas, nomeadamente conseguir um encontro com o Papa, quando cá vier para as Jornadas Mundiais da Juventude. Está também combinada uma audiência, que ainda não está exatamente agendada, com o Presidente da República. A intenção imediata é mostrar que nós existimos e que queremos representar todos os que se manifestaram no relatório da Comissão Independente, assim como aqueles que não o fizeram e gostariam de se manifestar se houvesse uma segunda ronda de recolha de testemunhos.

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