Não foram muitos os participantes, mas cumpriram a vigília pelas vítimas dos abusos sexuais em silêncio. Não houve orações ditas em voz alta, nem discursos, nem mesmo do bispo do Funchal que se juntou às cinco dezenas de pessoas que se reuniram na Praça do Município mas que não falou durante a hora em que estiveram de pé, de vela na mão.
As explicações foram dadas antes quando Tiago Neto, o promotor da reunião de leigos, chegou à praça. “Esta iniciativa não é uma solução para as vítimas. É uma primeira reação dos leigos que não ficam indiferentes. Acho que é muito importante passar a imagem de que os leigos que fazem parte da igreja não ficam indiferentes. São solidários, estão envergonhados e sentem-se desiludidos”.
Envergonhados pelo que o relatório sobre os abusos da igreja católica portuguesa revelou: as vítimas que foram abusadas por padres ao longo de décadas. A oração foi pelo perdão, mas também pela igreja, “para que a igreja se mexa, se movimente, para que passe da passividade para a fase activa”. Tiago Neto, que se apresentou com apenas um leigo, fez questão de lembrar que há muitos bispos e padres bons.
Na reunião na Praça do Município, foram vários os sacerdotes presentes, além do bispo do Funchal. D. Nuno Brás, que chegou à diocese em 2018. Não falou na vigília, mas, em declarações à SIC Notícias, deixou claro que, com ele, haverá tolerância zero para casos de abuso sexual. Se houver denúncias com fundamento, haverá participação imediata ao Ministério Público.
A promessa é importante numa altura em que Anastácio Alves, antigo padre da Diocese do Funchal, reapareceu cinco anos depois para responder em tribunal pela acusação de cinco crimes de abuso sexual a um rapaz de 13 anos. O ex-sacerdote – pediu a renúncia dos votos em 2019 – terá cometido os crimes em 2017, numas férias na Madeira quando servia como pároco junto da comunidade portuguesa em Paris.
Nessa altura, era já suspeito de abusos sexuais sobre outras duas vítimas quando era padre na Nazaré, uma paróquia no Funchal. Aliás, foi na sequência dessas denúncias, e apenas à segunda, que foi retirado da paróquia. Em 2008, o anterior bispo do Funchal, D. António Carrilho, decidiu mandá-lo primeiro para a Suíça e depois para Paris.
Foi também D. António Carrilho que informou o ex-padre de que corria em tribunal um processo contra si por abuso sexual. Ao saber do processo, Anastácio Alves desapareceu da última paróquia em que fora colocado, em Paris. Apareceu cinco anos depois à porta da Procuradoria Geral da República e poucos dias após ter sido conhecido o relatório sobre os abusos na igreja.
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