Sociedade

Apagão: comunicado falso de Ursula von der Leyen terá originado quase 400 ‘fake news’

Apagão: comunicado falso de Ursula von der Leyen terá originado quase 400 ‘fake news’

Uma análise aos meios noticiosos online no último mês concluiu que o comunicado falso de Ursula von der Leyen, onde dizia que o apagão tinha tido origem num ataque da Rússia, gerou cerca de 400 notícias online. Perto de 16 mil artigos falaram sobre a possibilidade (não confirmada) de um ciberataque

Entre os cerca de 64 mil artigos publicados online sobre o apagão entre 28 de abril e 28 de maio, em meios de língua portuguesa, espanhola, francesa e inglesa espalhados pelo mundo inteiro, 16 mil abordaram a possibilidade de um ciberataque, que nunca foi confirmado, e quase 400 fizeram eco de um comunicado falso, da suposta autoria Ursula Von der Leyen. Nessa declaração forjada, a presidente da Comissão Europeia culpava a Rússia por um ataque às infraestruturas energéticas de Portugal, Espanha e outros países europeus.

A conclusão é de um estudo da CARMA, agência de média que analisou as peças relativas ao tema e às diferentes versões para explicar a causa (ainda não totalmente esclarecidas) do acontecimento.

A notícia falsa sobre um suposto ataque russo circulou inicialmente nas redes sociais, e o relatório da CARMA indica que terá mesmo sido replicada em meios online. Mais de metade destes casos (54%) ocorreram em meios espanhóis, enquanto os meios portugueses representam 29% do total.

Outro dos “aspetos mais marcantes da cobertura foi o aparecimento de várias teorias sobre a origem do apagão”, acrescenta o estudo. Cerca de 13% das notícias abordaram a possibilidade de um ciberataque, “mesmo sem confirmação oficial”. Outras explicações, como a possibilidade (entretanto desmentida) de um incêndio em França, foram “praticamente irrelevantes do ponto de vista estatístico”, conclui a agência.

EM PORTUGAL, HOUVE MENOS NOTÍCIAS SOBRE POSSÍVEL CIBERATAQUE

Os meios online de Portugal publicaram menos notícias sobre a possibilidade de um ciberataque do que os meios espanhóis. Do país vizinho vieram cerca de 60% dos artigos acerca do tema, enquanto Portugal teve pouco mais de 9% do total. Destacam-se ainda os EUA, que tiveram cerca de 23,5% das notícias sobre um hipotético ciberataque.

Carla Baptista, professora Universidade Nova de Lisboa e investigadora na área de média e jornalismo, admite que este tipo de notícias pode ter contribuído para criar pânico e insegurança na população. Aponta a responsabilidade ao meios que disseminaram versões não oficiais, mas também “aos próprios interlocutores políticos que, ao sugerirem essa possibilidade, mesmo num plano hipotético, aumentaram o leque de cenários possíveis e deram credibilidade a versões não confirmadas das causas do apagão”. O ministro da Coesão Territorial, Castro Almeida, chegou a admitir nas horas subsequentes ao apagão que podia tratar-se de um ciberataque.

A ausência de um comunicado oficial do Governo foi outro fator que contribuiu para um clima de incerteza, defende a investigadora. “A informação autorizada e validada por fontes oficiais é sempre o melhor antídoto contra a desinformação”, explica. “Se esse espaço for deixado vazio, será inevitavelmente preenchido com múltiplas versões, algumas delas orquestradas com o propósito de criar cenários alarmistas, imputar responsabilidades a adversários ideológicos ou oferecer dados truncados, omissos ou deturpados”.

Recorde-se que, de acordo com uma notícia do Expresso publicada a 30 de abril,já passava das cinco da tarde quando o Governo decidiu enviar uma SMS à população sobre o apagão. A decisão de centralizar a comunicação fez com que a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil também não pudesse fazer as conferências de imprensa habituais.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: gtaborda@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate