AIMA promete avaliar "caso a caso" respostas às notificações de abandono voluntário de imigrantes
MIGUEL A. LOPES / EPA
No início de maio, dias antes da campanha eleitoral, o Governo anunciou que vai começar a notificar 4.574 cidadãos estrangeiros, para abandonarem o país voluntariamente em 20 dias. Ao Expresso o ministério quantificou em 23.500 os casos de recusa da autorização de residência no dia 8 de maio. O número deve ser agora maior
O presidente da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) afirmou que foi criado um grupo de trabalho para avaliar as respostas às notificações de abandono voluntário.
"Os processos tiveram a sua dinâmica e decisões e agora temos um segundo nível, internamente, para fazer aqui uma reavaliação de algumas dessas situações para termos, tanto quanto possível, a maior certeza relativamente às questões, depois de emissão das notificações de abandono voluntário", explicou Pedro Portugal Gaspar, salientando que todo o cidadão que tenha sido notificado para abandonar o país pode argumentar e contestar.
Em causa está o protesto de muitos imigrantes e associações do setor que contestam a decisão de expulsão com base na indicação automática de exclusão do Espaço Schengen.
Para estar nessas bases de dados de nomes é necessário cumprir um crime ou ter uma nota de expulsão noutro país comunitário, que pode ter por base a simples extinção de um pedido de regularização.
Um estrangeiro pode ter iniciado um processo de regularização num país terceiro e depois ter optado por Portugal por questões de emprego ou outras. O processo iniciado é considerado improcedente e a pessoa passa a estar excluída de fazer novos pedidos.
Com a transposição automática desses nomes da base de dados, isso exclui o estrangeiro em causa da candidatura à regularização em território português.
"Enquanto presidente, não interfiro diretamente na instrução dos processos", mas "cabe-me criar condições para que haja uma avaliação técnica e até com um segundo nível para garantir uma uniformidade de entendimento", explicou Pedro Portugal Gaspar.
No início de maio, dias antes da campanha eleitoral, o Governo anunciou que vai começar a notificar 4.574 cidadãos estrangeiros, para abandonarem o país voluntariamente em 20 dias.
"O Governo foi informado esta semana pela AIMA que está a emitir 4.574 notificações para abandono de território nacional de cidadãos estrangeiros em situação ilegal", afirmou Leitão Amaro, em declarações aos jornalistas, na sede do Governo, em Lisboa. A 8 de maio, porém, fonte oficial do Governo informou o Expresso de que já havia 23.500 processos indeferidos e de que estes imigrantes iriam receber um aviso para saírem voluntariamente do país, embora possam ainda recorrer da decisão.
Em abril houve várias manifestações de imigrantes no Porto e em Lisboa (na foto), a exigir direitos e mais rapidez nas decisões da AIMA
Na primeira semana de maio tinham sido aprovadas 123 mil autorizações de residência, que representavam 27,5% do total dos processos pendentes. Com a extinção inicial de 171 mil pedidos por falta de pagamento, apenas avançaram para atendimento e recolha de dados biométricos 275 mil manifestações de interesse, e, destas, 44,7% tiveram luz verde para a emissão de cartão de residência.
Entre os pedidos já com uma decisão proferida pela AIMA — 146.500 —, 84% tinham recebido resposta positiva e 15,6% foram recusados. Do lado dos indeferimentos contavam-se 23.500, adiantou a mesma fonte oficial do Ministério da Presidência, sendo provável que este número seja agora maior.
O ministro da Presidência recordou que a maior parte dos processos - dois terços - dizem respeito a imigrantes oriundos do subcontinente indiano.
"Nós estamos muito empenhados, já demos ordens, à articulação, a todas as forças e autoridades para coordenarem a execução. Os portugueses precisam de compreender e sentir e estar confiantes que a política de imigração hoje é regulada. As regras são para cumprir [...] e estas pessoas que estão nesta situação são pessoas que violaram as regras portuguesas e europeias para estarem em território europeu", precisou.