Julekha não tira notas nas aulas. Ao longo dos 90 minutos de cada lição, as explicações dos professores ecoam ao longe, como um barulho de fundo indefinido a que não presta muita atenção. Nas várias disciplinas, distrai-se a fazer desenhos no caderno, enquanto o seu pensamento foge para a vida que tinha no país que deixou para trás. “Fico aborrecida. Não entendo nada do que é dito”, desabafa, em inglês, a jovem chegada há menos de dois anos do Bangladesh, atualmente a frequentar o 11º ano no Agrupamento de Escolas Amadora Oeste. Uma vez por semana, encontra-se na biblioteca com Sakshi, uma aluna vinda da Índia há quatro anos e com quem tenta tirar a montanha de dúvidas que diariamente se avoluma na sua cabeça. Sakshi já fala português, mas lembra-se bem da sensação de se sentir perdida no meio de um indecifrável emaranhado de sons. Por isso, ofereceu-se para ser “mentora” da colega, esforçando-se por lhe explicar em Bengali a matéria que Julekha é suposto estudar.
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