Todos esses avisos apareceriam automaticamente e em tempo real num grande ecrã, controlado por uma equipa de responsáveis pela monitorização de doenças respiratórias transmissíveis em Portugal. Seria uma espécie de “IPMA das epidemias” e faria para as doenças infecciosas o que já se faz na meteorologia: analisaria grandes quantidades de dados e usaria algoritmos de monitorização para a criação automática de alertas, antecipando eventos e comunicando com a população depois de serem definidas as medidas a tomar.
Portugal ainda não tem um sistema de informação a funcionar desta forma, integrando todos estes dados de várias fontes, recolhidos automaticamente e analisados com recurso a inteligência artificial. Mas, há um ano, no rescaldo da pandemia de covid-19, duas dezenas de cientistas portugueses propuseram a criação de um sistema de monitorização de doenças transmissíveis baseado numa plataforma de informação que permitisse antecipar a próxima crise de saúde pública. “O modelo é muito simples: da mesma forma que implementámos institutos nacionais de meteorologia e geofísica, que são multidisciplinares, com recolha e análise de dados, além de trabalho em rede e capacidade de previsão, devíamos fazer o mesmo para a saúde, pelo menos para as doenças respiratórias infecciosas”, explica Joana Gonçalves de Sá, responsável pela equipa de Física Social do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas e uma das autoras da proposta, que envolveu também cientistas do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, do Instituto Gulbenkian de Ciência ou da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), entre outros. Nessa proposta, publicada em novembro de 2022, os cientistas acharam ser esse o momento para agir. “Estamos numa altura crucial para pensar e implementar novos sistemas de vigilância que possam ajudar tanto a controlar surtos sazonais como a antecipar e a dar resposta ao aparecimento de novos surtos e epidemias causados por agentes ainda desconhecidos, permitindo um melhor planeamento de curto e longo prazos”, escreveram.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ralbuquerque@expresso.impresa.pt