Sociedade

Sete em cada 10 países tem um ambiente jornalístico mau

Sete em cada 10 países tem um ambiente jornalístico mau
Priscila Du Preez/Unsplash

O relatório anual da organização Repórteres Sem Fronteiras mostra que a situação da imprensa é “má” ou “muito má” em muitos países.

O ambiente do jornalismo é mau em sete em cada 10 países, revela a 21.ª edição do Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, hoje divulgado pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que hoje se celebra, o relatório da RSF - que analisa a situação em 180 países ou territórios - diz que a situação é "muito má" em 31 países, "má" em 42 países, "problemática" em 55 e "boa" ou "razoavelmente boa" em 52 países.

Pelo sétimo ano consecutivo, a Noruega aparece como o país com melhor ambiente para o jornalismo, mas o segundo lugar não é ocupado por um país nórdico (o que é invulgar em relação às recentes edições do inquérito), surgindo aí a Irlanda, que subiu quatro posições, ficando à frente da Dinamarca.

Portugal aparece em nono lugar, a primeira posição no patamar dos países com a classificação de ambiente "razoavelmente bom", a uma posição do patamar de "bom", atrás da Estónia e à frente de Timor-Leste, Liechtenstein e Suíça.

Nos três últimos lugares do 'ranking' da RSF aparecem apenas países asiáticos: Vietname (um país acusado de ter expulsado todos os jornalistas independentes), China (que caiu quatro posições no último ano) e Coreia do Norte (que é considerado um dos maiores exportadores de propaganda).

O relatório revela ainda que o cenário de desinformação global tem sido favorável para o aumento de propaganda na Rússia, que aparece no lugar 164 da lista, depois de cair nove lugares no último ano.

Os Estados Unidos também caíram três posições nos últimos 12 meses, com registo de um ambiente mais problemático para os jornalistas a nível da imprensa regional, nomeadamente por causa de situações de violência sobre repórteres.

"O Índice Mundial de Liberdade de Imprensa mostra uma enorme volatilidade, com grandes subidas e quedas e mudanças inéditas, como a ascensão do Brasil à 18ª posição e a queda de 31 lugares do Senegal. Essa instabilidade é resultado do aumento agressividade por parte das autoridades em muitos países e da crescente animosidade contra jornalistas nas redes sociais e no mundo físico", comentou Christophe Deloire, secretário-geral da RSF.

A edição deste ano do Índice sublinha ainda os efeitos dramáticos provocados pelo impacto do ecossistema digital, nomeadamente as redes sociais digitais, no fluxo informativo.

Em 118 países, a maioria dos inquiridos por este inquérito relataram situações em que os atores políticos nos seus países foram sistematicamente envolvidos em campanhas massivas de desinformação nas redes sociais.

Por outro lado, este documento da RSF destaca que a fronteira entre o que é verdadeiro e o que é falso, entre o real e o fictício é cada vez mais ténue e difícil de aferir.

A organização antecipa que esta situação pode agravar-se nos próximos anos, com a emergência de mecanismos de Inteligência Artificial (IA) no terreno da produção de conteúdos informativos, alavancada pelas recentes evoluções.

"A IA está a digerir conteúdo e a regurgitá-lo de forma sintética com regras que desrespeitam os princípios de rigor e fiabilidade", concluem os analistas do Índice hoje divulgado.

WANA NEWS AGENCY/Reuters

“Uma revolução histórica liderada por mulheres”

Três jornalistas presas no Irão receberam hoje o prémio Guillermo Cano como reconhecimento do seu trabalho e luta contra a opressão do governo iraniano.

A UNESCO atribuiu este ano o Prémio Guillermo Cano para a Liberdade de Imprensa a três mulheres jornalistas presas no Irão: Niloofar Hamedi, Elaheh Mohammadi e Narges Mohammadi.

"Agora, mais do que nunca, é importante prestar homenagem a todas as mulheres jornalistas que são impedidas de fazer o seu trabalho e que enfrentam ameaças e ataques à sua segurança pessoal", declarou a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Audrey Azoulay, em comunicado divulgado hoje.

A organização recordou que as mulheres jornalistas e outros trabalhadores dos meios de comunicação social em todo o mundo enfrentam cada vez mais ataques e ameaças "desproporcionadas e direcionadas".

Anadolu Agency/Getty

Ataques aumentaram na África Austral e Oriental

Os ataques contra jornalistas aumentaram nos países da África Austral e Oriental em 2022, disseram hoje o Instituto dos Media da África Austral e a Amnistia Internacional (AI), no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

"As autoridades nestas duas regiões aumentaram os ataques contra os jornalistas e contra a liberdade de imprensa em toda a região para suprimir as notícias sobre corrupção e violação de direitos humanos em 2022", escrevem as duas organizações não-governamentais, num relatório divulgado hoje.

De acordo com o diretor da AI para a África Austral e Oriental, Tigere Chagutah, citado no documento, "tem havido uma preocupante tendência de ataques, assédio, intimidação e criminalização do jornalismo nos países da África Oriental e Austral, demonstrando o quão longe as autoridades estão preparadas para ir para silenciar os media que expõem acusações de corrupção e de abusos de direitos humanos".

A liberdade de imprensa "é fundamental para garantir sociedades transparentes, e se as autoridades estão empenhadas em construir sociedades que respeitem os direitos humanos e responsabilizem os governos, então têm de parar de intimidar e assediar os jornalistas", sob pena de "lançarem as sociedades para as trevas", conclui-se no relatório.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate