Capela do Rato debate abusos sexuais na igreja dia 30 de março
Sessão na Capela do Rato, em dezembro de 2022, sobre a vigília contra a guerra colonial realizada 50 anos antes
D.R.
Igreja recentemente agraciada com a Ordem da Liberdade promove mesa redonda com antigo procurador-geral da República e cineasta membro da comissão independente que investigou alegações contra padres católicos
Averiguar o impacto dos abusos sexuais cometidos por padres e leigos da igreja católica sobre as respetivas vítimas e procurar respostas são os dois objetivos do debate que a Capela do Rato, em Lisboa, promove no próximo dia 30 de março pelas 21h. É a primeira de duas, visando a segunda (ainda sem data) inquirir como se saram as feridas deste escândalo.
O pároco local, António Martins, explica ao Expresso tratar-se de um passo “no doloroso processo da resposta da Igreja” às divulgações das últimas semanas e ao relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
Na mesa-redonda promovida no espaço da capela participam a cineasta Catarina Vasconcelos, que integrou a Comissão em causa; a pedopsiquiatra Francisca Padez Vieira, perita em dano do Instituto de Medicina Legal, e José Souto de Moura, magistrado e juiz jubilado, que foi procurador-geral da República entre 2000 e 2006. Atualmente é coordenador nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e coordenador da Comissão do Patriarcado de Lisboa de Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis.
A conversa será conduzida pela jornalista Rosa Pedroso de Lima, que até há pouco tempo integrou a redação do Expresso. Durante várias décadas no jornal, cobriu, entre outros, assuntos religiosos. Segundo os organizadores, semanas depois da apresentação do relatório da Comissão, “ainda há muitas inquietações e perguntas por responder”.
Entre as questões a abordar no dia 30 estão: Como se sentiram as vítimas, antes e agora? Qual o impacto dos abusos nas suas vidas e na sua saúde física, psicológica e espiritual? Como vai ser feita a ligação entre as Comissões Diocesanas e quem vai acompanhar e cuidar das vítimas no futuro? Existe necessidade de criação de uma nova Comissão Independente?
Em defesa da verdade
Em relação ao escândalo dos abusos sexuais, António Martins tem defendido abertura, proferindo homilias com motes como “A verdade liberta”, “É na fragilidade que a força se manifesta”, tendo promovido no passado dia 15 uma vigília de oração a este respeito.
A Capela do Rato organiza assiduamente debates e sessões de discussão sobre assuntos variados, que vão da história à literatura e a filosofia, para os quais convida crentes e não-crentes. Nos meses anteriores à divulgação do relatório da Comissão Independente, foi dado destaque ao 50º aniversário da vigília pela paz de dezembro de 1972, contra a guerra colonial.
Entre os atos comemorativos contou-se uma sessão com participantes nessa vigília, como o jornalista Jorge Wemans e a médica e política Isabel do Carmo. Na ocasião o Presidente da República anunciou a atribuição da Ordem da Liberdade à comunidade da Capela do Rato.
Referindo-se às celebrações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, que decorrem desde 2022 e até 2026, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que “era justo que houvesse um sinal em relação ao contributo cristão nesse processo”.
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