Sociedade

"Défice de educação financeira e digital conduz a população mais velha à exclusão", conclui estudo da Fundação Cupertino de Miranda

"Défice de educação financeira e digital conduz a população mais velha à exclusão", conclui estudo da Fundação Cupertino de Miranda
D.R.

Maria Amélia Cupertino de Miranda defende que, no terceiro país mais envelhecido da UE, é fundamental reforçar as políticas públicas nacionais de apoio à literacia digital da geração mais idosa. Fundação Dr. António Cupertino de Miranda criou o projeto ‘Eu e a Minha Reforma’, programa gratuito destinado a maiores de 55 anos no ativo, desempregados ou reformados

“A falta de literacia financeira é um problema social ao dificultar a qualidade de vida de todos e, em particular, da população mais velha, conduzindo a processos de empobrecimento e exclusão”, afirma Maria Amélia Cupertino de Miranda. A presidente da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda salienta, por isso, a importância do projeto em curso 'Eu e a Minha Reforma' que, em final de dezembro, completa três anos e continuará ativo para as autarquias da Área Metropolitana do Porto que o queiram implementar.

Destinado a pessoas com mais de 55 anos, a formação de capacitação digital e financeira está a ser alvo de um estudo de medição de impacto social, cujos primeiros resultados foram apresentados no recente Fórum 'Transição para a Reforma', organizado pela Fundação Cupertino Miranda, no Porto. Dos participantes, 72,7% revelaram ter “alterado o planeamento e gestão financeira dos seus orçamentos” e 72% dos inquiridos manifestaram ter “mudado os seus comportamentos”.

Ao Expresso, a presidente da Fundação refere que ao projeto 'Eu e a Minha Reforma' já aderiram 1.800 pessoas, número que superou as expectativas. “Apesar de a pandemia ter travado a frequência presencial, a preferida da faixa etária acima dos 55 anos, o confinamento veio confirmar a falta de capacitação digital dos mais idosos para, por exemplo, preencher a declaração de IRS ou fazer pagamentos através de MB Way e Pay Pal ou aceder ao ‘homebanking’”, nota Maria Amélia, lembrando que, face às atuais perspetivas de longevidade para além dos 80 anos, “quase um terço da vida das pessoas será em contexto de reforma, o que obriga a redefinir o seu modo de vida”.

A formação em 12 sessões, apoiada pelo programa Portugal Inovação Social, através do Fundo Social Europeu, ajuda a preparar o trabalhador para o momento da reforma e delinear estratégias de poupança ou a alertar para o combate à fraude, e ainda a utilizar ferramentas digitais capazes de “ajudar a geração sénior a viver esta fase da vida com maior independência e segurança”.

No terceiro país mais envelhecido da União Europeia, outra das conclusões do Fórum 'Transição para a Reforma - desafios às organizações e às pessoas' é a necessidade “urgente” de Portugal criar políticas públicas de resposta aos desafios da longevidade, visando o “reforço da importância da geração mais velha” para a sociedade e para as empresas.

“Numa sociedade em que deixou de haver empregos para a vida, é preciso habilitar as pessoas a repensar as suas carreiras e percursos de vida”, diz a responsável da Fundação, defensora de políticas inovadoras de âmbito nacional que promovam a manutenção das pessoas idosas no mercado laboral ou em atividades que as mantenham ativas após a reforma.

A necessidade de resposta nacional é também defendida por Fernando Paulo, vereador da Educação e da Coesão Social da Câmara do Porto, parceira do projeto de literacia financeira e digital, que lembrou no Fórum: “temos uma secretaria de Estado da Juventude, tivemos uma secretaria da Igualdade na anterior legislatura, mas até agora não temos uma secretaria de Estado para as questões do envelhecimento e dos idosos”.

“As respostas tradicionais não respondem, na área do envelhecimento, àquilo que são as necessidades de hoje”, concluiu o autarca. Maria Amélia Cupertino de Miranda vai mais longe, ao sublinhar que “o nosso modelo de sociedade foi pensado para o século passado” e deixou de servir no século XXI. “As pessoas precisam cada vez mais de segundas e terceiras oportunidades, o que só acontecerá com mais qualificação e maior interação entre gerações, para que os mais novos aprendam com a experiência dos mais velhos e estes com a força e o desafio dos mais jovens”, sustenta.

O programa 'Eu a Minha Reforma' teve maioritariamente a adesão de desempregados e reformados, mas também de pessoas integradas no mercado laboral e com diferentes níveis académicos: ”55% são mulheres e tanto se inscrevem pessoas com o ensino básico, como com grau de licenciatura”.

Como prevenir a fraude, como lidar com seguros, produtos financeiros bancários ou, simplesmente, como abrir uma conta bancária, são alguns dos temas mais apreciados. “Um quarto dos formandos renegociaram seguros e 25% dos que não tinham passou a fazer algum tipo de seguro”, adianta Maria Amélia, que acrescenta que os direitos e deveres dos consumidores é outra temática que desperta enorme curiosidade na faixa acima dos 55 anos: “É outra área onde há défice de conhecimento e gostam de saber onde ir reclamar”.

Porto, Matosinhos, Maia, Vila Nova de Gaia, Vila do Conde e Santo Tirso são os seis municípios da Área Metropolitana do Porto que aderiram ao projeto que a Fundação Cupertino Miranda quer levar a outros concelhos interessados. Sem custos de frequência, o programa tem como parceiros o Banco de Portugal, a Faculdade de Economia da Universidade do Porto e a Associação Portuguesa de Seguros.


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