Sociedade

“Apesar dos sinais encorajadores, não há um único indicador no caminho certo": vamos falhar metas para travar desflorestação até 2030

Manaus, estado de Amazonas, Brasil a 8 de julho de 2022
Manaus, estado de Amazonas, Brasil a 8 de julho de 2022
BRUNO KELLY

Em 2021 foram destruídos em todo o mundo cerca de sete milhões de hectares de zonas florestais, tanto como toda a Irlanda. Brasil é o país com mais área perdida

O mundo vai falhar as metas internacionais traçadas na mais recente Cimeira do Clima da ONU, realizada no ano passado em Glasgow, para travar a deflorestação até 2030 se não forem tomadas medidas. A conclusão é de um relatório divulgado esta segunda-feira pela Deforest Declaration Platform.

“Apesar dos sinais encorajadores, não há um único indicador no caminho certo para cumprir os objetivos para 2030 de travar a perda de floresta e degradação, assim como a restauração de 350 milhões de hectares de floresta”, conclui a avaliação.

Para cumprir estes objetivos, seria necessário uma diminuição global da deflorestação na ordem dos 10%. Em vez disso, em 2021, a área destruída caiu apenas 6,3% comparativamente ao período de referência (2018-2020). O recuo foi contudo inferior nas florestas tropicais (ecossistemas mais ricos em biodiversidade e captura de carbono), onde foi de apenas de 3%.

No total desapareceram cerca de sete milhões de hectares de floresta em 2021.

O mundo continua assim a perder as suas florestas, embora a um ritmo inferior ao que acontecia no passado. “Se continuar, esta desaceleração poderá, a seu tempo, colocar-nos no caminho para atingir o objetivo de 2030.”

Brasil é líder mundial na destruição

Em 2021, o Brasil foi o país com maior área destruída. A deflorestação no país aumentou desde que Jair Bolsonaro chegou à presidência. A tendência inversa foi registada durante a presidência de Lula da Silva. Por isso, os cientistas consideram que as eleições em curso serão essenciais para determinar o futuro da Amazónia.

O top cinco de países com maior deflorestação no ano passado fica completo com Indonésia, Bolívia, República Democrática do Congo e Paraguai. Destes, apenas a Indonésia apresenta uma tendência positiva (o único país a reduzir consecutivamente a área destruída nos últimos cinco anos).

Em termos regionais, a Ásia Tropical é atualmente a única região encaminhada para cumprir as metas até 2030.

Por sua vez, destaca o relatório, "o progresso notável nos esforços de florestamento e reflorestamento nas últimas duas décadas resultou em novas áreas florestais do tamanho do Peru, com ganhos líquidos de cobertura florestal em 36 países. No entanto, as perdas gerais excederam os ganhos no mesmo período, resultando numa perda líquida de 100 milhões de hectares globalmente.

Perda de árvores em 2021 equivale a emissões feitas por toda a UE e Japão

Travar a deflorestação é considerado um objetivo essencial para combater alterações climáticas e limitar o aquecimento global a apenas mais 1,5ºC face a níveis pré-industriais. Segundo este relatório, as emissões de carbono resultantes desta perda ambiental correspondem às emissões feitas por todos os países da UE e o Japão num ano.

Na COP26 (Cimeira do Clima da ONU que decorreu no ano passado em Glasgow), 145 Estados concordaram em acabar com estas perdas de zonas florestais até ao fim da década. No entanto, segundo os autores deste estudo, tal objetivo irá falhar caso se mantenham as tendências atuais. Este falhanço não seria inédito, dado que já tinha existido um compromisso internacional semelhante assinado em 2014 que traçava esta meta para 2020.

Os especialistas criticam a falta de transparência nas medidas adotadas e a falta de financiamento (apenas 1% dos fundos necessários foram disponibilizados, afirmam). O relatório assinala também a falta de vontade política para cumprir objetivo.

“Os governos devem considerar cuidadosamente se a ação voluntária é uma base viável para atingir as metas florestais de 2030 e como o papel da ação obrigatória, divulgação e responsabilidade deve ser aumentado”, insta o documento. “Enquanto isso, as empresas precisam de aumentar urgentemente o alcance e o rigor da ação empresarial, seja voluntária ou obrigatória. Uma variedade de atores do sector privado – empresas, instituições financeiras e filantropias – ainda não alavancou o seu poder significativo para orientar o desenvolvimento e a produção de produtos numa trajetória sustentável de acordo com as metas florestais.”

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: calmeida@expresso.impresa.pt

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