Na noite de Procissão de Velas, no altar da Basílica da Nossa Senhora do Rosário de Fátima, o arcebispo venezuelano Edgar Peña Parra, diplomata do Estado do Vaticano que presidiu à Peregrinação, insistia no tema do conflito no leste da Europa: "O pranto de Deus ante uma guerra que destrói não só a Ucrânia, mas também os vencedores e os que observam", ouvia-se no recinto de oração. Mais abaixo, na primeira fila, estava a ucraniana Karina Potomkina, enfermeira em Portugal há mais de uma década. A filha de nove anos já não fala a sua língua, mas aprendeu em 24h a cantar “hey, hey, rise up!”, a música de homenagem à Ucrânia que marcou o regresso dos Pink Floyd, em parceria com o artista ucraniano Andriy Khlyvnyuk.
No telemóvel, Karina mostra o vídeo que gravou da filha a cantar, entre as centenas de publicações que fez no Facebook desde que a Rússia invadiu o seu país. O que a leva a publicar constantemente nas redes sociais é o mesmo impulso que a traz a Fátima: “Eles lá na Ucrânia veem. Os meus irmãos veem tudo o que faço, muitas vezes até em direto. Mostram aos amigos, partilham. É importante mostrar-lhes que não nos esquecemos deles”. É por isso que vai a todas as manifestações em Lisboa e agora está em Fátima.
Chegou cedo, na manhã de 13, para se certificar de que conseguia pendurar as bandeiras portuguesa e ucraniana, lado a lado, bem junto à Basílica da Nossa Senhora do Rosário de Fátima, na primeira fila. Não quer atenção, diz Karina, quer dar voz ao povo ucraniano. "Já o fazia em Lisboa, no Terreiro do Paço, nas manifestações. Participei em todas. Agora, é em Fátima". Diz não ter, nem poder ter vergonha de ser ucraniana. Pendurou as duas bandeiras juntas porque os portugueses têm ajudado os ucranianos em tudo. "É um gesto de agradecimento”, completa.
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