Chegou ao fim a longa espera de Isabel Bapalpeme pelo reencontro com a família, que não vê há oito anos, desde que veio sozinha da Guiné Bissau para tratar, de urgência, uma tuberculose que lhe destruiu os pulmões. Depois de um processo conturbado de emissão de vistos, a mãe e os três irmãos menores tiveram finalmente luz verde para viajar e chegam esta tarde a Lisboa.
A jovem guineense, de 29 anos, terá finalmente a tão desejada companhia enquanto aguarda pelo transplante de pulmão de que depende a sua vida. Isabel é uma das cerca de 60 pessoas em lista de espera, em Portugal, e nas últimas semanas o seu estado de saúde tem vindo a agravar-se. Qualquer esforço pode fazê-la colapsar.
O suporte familiar é um dos fatores fundamentais para o sucesso da intervenção, sobretudo no difícil período de convalescença. Por isso, já há quatro anos, os médicos que a acompanhavam no Centro Hospitalar Lisboa Norte enviaram duas cartas à Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau apelando à emissão de um visto para a vinda da mãe. Um ano depois, a secção consular indeferiu o pedido, nunca dando resposta às missivas.
Tudo mudou desde a publicação da reportagem do Expresso, no mês passado, que denunciou a grave situação humanitária de Isabel, que vivia sozinha num apartamento vazio, despido de móveis e conforto, a que estava confinada por necessitar de oxigénio 24 horas por dia, sem autonomia sequer para chegar ao fim da rua.
O artigo gerou uma onda de solidariedade entre os leitores, que multiplicaram doações suficientes para mobilar a casa e pagar, através de uma angariação de fundos, as passagens de avião para a família. A nível diplomático, o processo de emissão dos vistos da família também foi desbloqueado, com a intervenção direta do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que deu instruções à embaixada em Bissau para dispensar burocracias e atuar com a urgência que o caso requeria.
Cumprido o desejo da chegada da família, que aterra esta tarde no aeroporto de Lisboa, resta a Isabel o sonho do transplante. Mesmo com oxigénio de alto débito permanente, o ar já não lhe chega. A jovem guineense sofre de cansaço extremo e tem tido episódios de hipóxia — uma situação que ocorre quando a quantidade de oxigénio transportada para os tecidos do corpo é insuficiente, causando sintomas como dor de cabeça, sonolência, suores frios e até desmaios. Ao Expresso, José Fragata, responsável pelo único Centro de Referência de Transplante Pulmonar do país, que funciona no Hospital de Santa Marta, reconhece a gravidade da situação e a urgência da realização do transplante, que aguarda o aparecimento de um órgão compatível.
O principal critério para a atribuição de um pulmão — o órgão mais escasso — é a gravidade clínica, ou seja, o tempo estimado de vida que resta ao doente se não for operado. As orientações internacionais ditam que um doente é referenciado para transplante pulmonar quando, sem cirurgia, tem grande probabilidade de vir a morrer nos dois anos seguintes. A jovem guineense, que veio para Portugal em 2014 devido a uma tuberculose nunca tratada que lhe destruiu os pulmões, é seguida há mais de dois anos na consulta de transplantação.
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