Sharia e Corão: a “lei islâmica não é bárbara nem violenta”, “as péssimas interpretações do Islão” é que o são

Jornalista
É preciso recuar à origem árabe e olhar para a raiz da palavra. “Sharia significa caminho. Esta é a tradução à letra. Em termos teológicos, significa a lei”, começa por dizer ao Expresso o sheik David Munir. Ter uma jurisprudência preconizada pelo profeta não é um exclusivo do Islão, uma vez que as três religiões abraâmicas possuem códigos semelhantes. “Quando olhamos para o que Deus revelou a Moisés — por exemplo, os Dez Mandamentos ou a lei que está na Torá — isso é sharia. É a lei de Deus para os judeus. Do mesmo modo, no cristianismo há o direito canónico, que nada mais é do que a sharia da Igreja”, defende o imã da Mesquita Central de Lisboa.
“O Corão é a primeira fonte da lei islâmica e diz que Alá revelou a mensagem ao profeta Maomé, tal como já tinha revelado a Abraão, a Moisés e a Jesus”, explica o líder religioso islâmico de 58 anos. “O Corão dá referências para o nosso quotidiano. É um livro teórico. A prática nós, muçulmanos, encontramos numa segunda fonte, que é a vida do profeta” narrada na Suna, com registos de episódios biográficos de Muhammad que servem de exemplo para os fiéis, sustenta Munir.
E é neste ponto que se chega a uma encruzilhada de interpretações do direito islâmico. Olhe-se para a Bíblia, escrita originalmente em hebraico, aramaico (falado por Jesus) e grego antigo, sendo posteriormente unificada e transposta para latim. Atualmente, o grego antigo e o latim são línguas mortas, o aramaico está praticamente extinto e o hebraico só foi resgatado no final do século XIX, renascido quase dois mil anos depois de o seu uso se ter esvaído. Isso levou a que a Bíblia fosse sendo copiada e inevitavelmente ajustada a outros idiomas, em tempos e contextos diferentes, não existindo uma versão autêntica. Dessa forma foi sucessivamente adaptada por quem a traduziu de acordo com os valores e poderes vigentes. Tal não acontece com o Islão.
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