18 julho 2021 19:29

A doença arrasta-se para a cama. Marca as horas que antes eram de prazer. Quando o desejo se esfuma, mundos desabam debaixo dos lençóis. Mas em Portugal há quem tente encontrar soluções
18 julho 2021 19:29
e repente, o mundo desabou sobre o corpo frágil de Luísa. Nem a mais feroz das tempestades alcança a violência de uma notícia capaz de transformar em abismo o chão todos os dias calcorreado. Nem precisa da cicatriz no peito para recordar cada instante, cada segundo, desde aquele primeiro confronto com a certeza de que algo de maligno habitava no seu corpo. Um tumor na mama foi-lhe detetado em 2019. Muito invasivo. Triplo negativo. De uma agressividade extrema. Seguem-se oito ciclos de quimioterapia. Depois, a radioterapia. A seguir, os enjoos. Os vómitos. As dores insuportáveis. O corpo transforma-se.
Luísa deixa de se reconhecer. Dez quilos a mais. Todavia, nem é tanto o excesso de gordura que a afeta. O cabelo, antes ondulado, longo e castanho, torna-se encaracolado, curto e grisalho. Vezes sem conta olha-se ao espelho. Confronta-se com a cicatriz. E de cada vez há um novo turbilhão de memórias. Recordações do tempo de antes. Vivências passadas olhadas com saudade.