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“Long covid”. Metade dos doentes com queixas cognitivas após um ano

Maria Irene Moreira diz que “perdeu a vontade de fazer todas as coisas”. Está a ser avaliada pelo Serviço de Neurologia do Hospital de Santo António, no Porto
Maria Irene Moreira diz que “perdeu a vontade de fazer todas as coisas”. Está a ser avaliada pelo Serviço de Neurologia do Hospital de Santo António, no Porto
rui duarte silva

Long covid. “Caminhar é difícil, subir escadas também. Tudo é muito difícil” meses depois de ter covid-19, e os médicos ainda não têm soluções

“Long covid”. Metade dos doentes com queixas cognitivas após um ano

Helena Bento

Jornalista

“Long covid”. Metade dos doentes com queixas cognitivas após um ano

Joana Ascensão

Jornalista

Até para as orquídeas que tem em casa Maria Irene Moreira deixou de gostar de olhar. Também deixou de querer costurar, que sempre foi a sua terapia para os dias de maior agitação no trabalho e que a ajudava a “passar o tempo”. “Perdi a vontade de fazer todas as coisas de que gosto.” O cansaço que a infeção pelo vírus da covid-19 lhe trouxe era muito. Um mês e meio depois de ter sido dada como curada e ter voltado ao trabalho — é coordenadora das equipas de auxiliares do Hospital de Santo António, no Porto, e tem 49 anos — ainda se sentia muito “debilitada” e andava “cansada, sempre muito cansada, sempre muito esquecida”. “No trabalho, não conseguia passar pelos serviços todos do hospital sem descansar, não tinha forças. Também não conseguia concentrar-me em nada, fazer os horários e os planos de trabalho das equipas. Fazia e revia e revia e voltava a rever. Custava-me sair de casa, as vozes das pessoas na rua incomodavam-me e o barulho dos autocarros também. Fui-me abaixo, chorava por tudo e por nada.” Algumas destas dificuldades desapareceram com o tempo, mas outras mantêm-se mais de um ano depois de ter sido infetada pelo vírus. “Antes limpava os dois pisos da minha casa de uma ponta à outra, agora preciso de dois dias para o fazer. Continuo a sentir-me muito cansada. A concentração ainda não está a 100%. É como eu costumo dizer: ainda não voltei a ser eu.”

Maria Irene Moreira é uma das centenas de pessoas que estão a ser avaliadas pelo Serviço de Neurologia do Hospital de Santo António, no Porto, no âmbito de um estudo sobre as consequências neurológicas da covid-19 a longo prazo. Os resultados preliminares, partilhados com o Expresso, mostram que ao fim de um ano quase metade (47,9%) mantém queixas de alterações cognitivas. São sobretudo ao nível da memória, mas traduzem-se também em “problemas de atenção e concentração”, “dificuldades em planear tarefas e realizar várias ao mesmo tempo” e “dificuldade em encontrar as palavras certas para determinada situação”, explica Vanessa Oliveira, neurologista e uma das responsáveis pelo estudo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hrbento@expresso.impresa.pt

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