"O empregador cobra aos imigrantes os próprios contratos de trabalho. E depois desconta-lhes a dívida no salário"

Jornalista
O cerco sanitário às freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, em Odemira, tirou da clandestinidade a exploração de mão-de-obra imigrante nas grandes propriedades agrícolas do Alentejo, mas o fenómeno não é novo nem localizado – há vários anos que nepaleses, indianos e moldavos se espalham aos milhares por todo o país rural ao ritmo da época das colheitas da azeitona, fruta, castanha, tomate, melão e até da sazonalidade da limpeza dos terrenos agrícolas. A uni-los e a guiá-los há redes invisíveis de recrutadores, muitos seus compatriotas, que os controlam com dívidas e promessas de legalização. Orlando Ribeiro, coordenador da Unidade Anti-Tráfico de Pessoas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), conhece cada um dos 32 inquéritos crime que correm atualmente em diversas comarcas do Alentejo, pelos crimes de tráfico de pessoas, auxílio à imigração ilegal e angariação de mão-de-obra ilegal. Desde 2018, foram sinalizadas 134 vítimas de tráfico de pessoas para exploração laboral, e pelo cruzamento das suas histórias é possível traçar o modus operandi desta escravatura moderna do mundo rural.
A exploração laboral de imigrantes em Portugal ou mesmo tráfico de seres humanos existe apenas em Odemira ou há mais investigações em curso, noutros locais do país?
É um pouco injusto – não sei se esta será a melhor palavra – que o holofote esteja ali em Odemira quando esta é uma situação que acontece, não só por todo o Alentejo, mas por todo o país onde haja culturas sazonais. Nesta altura é a época forte da apanha dos frutos vermelhos, depois vem a azeitona, na zona Oeste é a fruta, no norte é a castanha, e a cereja. Onde há uma necessidade de grande quantidade de mão-de-obra surge uma economia paralela. E são estrangeiros, porque não há portugueses disponíveis para fazer este trabalho e porque os angariadores sabem que iam surgir imediatamente queixas quanto ao pagamento e alojamento.
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