Os efeitos colaterais da pandemia podem ser extremamente violentos para todos aqueles que, não tendo sido infetados, são afetados pelo vírus da violência doméstica, mais vulneráveis no primeiro confinamento decretado entre 22 de março e 3 de maio do ano passado. O cenário é evidenciado através dos dados divulgados pela APAV, associação à qual foram reportados 683 casos durante o período de isolamento, com contactos reduzidos e um quotidiano trancado entre quatro paredes, em que as vítimas ficaram mais expostas aos agressores.
Depois de ter lançado em novembro a primeira newsletter sobre o projeto “Violência Contra as Mulheres e Violência Doméstica em Tempos de Pandemia”, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima divulgou recentemente a segunda edição, dando continuidade à partilha de informação dos resultados do estudo.
Os números são alarmantes: das 683 denúncias de agressões, 589 situações são de violência doméstica (86%) e 94 ocorrências correspondem a outras formas de abusos à integridade física (14%), como por exemplo crimes sexuais.
A violência doméstica continua a atingir sobretudo as mulheres, que perfazem 83% das queixas, bem acima dos 17% de vítimas do sexo masculino. A prevalência da vitimação, conclui a APAV, é maior em pessoas entre os 21 e os 44 anos.
Em termos territoriais, os casos de violência doméstica contra as mulheres são mais frequentes na região de Lisboa e Vale do Tejo (34,6%), enquanto o Norte é a zona do país com mais homens agredidos (28,7%). Um denominador é, no entanto, transversal: a situação de dependência económica das vítimas.
“Uma parte substancial das vítimas não possui atitividade profissional, quer em casos de mulheres (40,5%) como em homens (60,2%)”, aponta o mais recente relatório do projeto “Violência Contra as Mulheres e Violência Doméstica em Tempos de Pandemia”.
O projeto da APAV desvela que 34,1% das agressões ocorrem num contexto de relações de intimidade, 12,6% são infligidas a crianças e 14,9% contra idosos.
O perfil do autor ainda é sobretudo masculino (76,6%) e a maior parte dos casos de violência doméstica acontece de forma continuada (68%), com uma duração que pode durar entre um mês e 52 anos no caso das mulheres expostas a agressões. Já os homens violentados podem estar sujeitos a uma situação perpetrada que se pode prolongar desde um mês até 41 anos.
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