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A pandemia vai provocar “evoluções futuras” nos seguros

A pandemia vai provocar “evoluções futuras” nos seguros
BSIP/Getty Images

Apesar da perda de rendimentos de muitas famílias, houve um aumento de 2,1% na emissão de seguros de saúde, entre janeiro e maio deste ano, em Portugal. Estes contratos cobrem epidemias, “uma coisa localizada”, mas excluem pandemias, nota José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradoras (APS), ao Expresso. Esta falha de cobertura não passou despercebida ao setor

A pandemia vai provocar “evoluções futuras” nos seguros

Fábio Monteiro

Jornalista

Todos os ramos e sub-ramos dos seguros “vão ter evoluções futuras” devido à pandemia da covid-19, diz José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradoras (APS), ao Expresso. As seguradoras já estão a “desenvolver produtos e a identificar necessidades”, adianta, mas as alterações podem não ser lineares ou diretas.

Um exemplo: a pandemia gerou um aumento expressivo da procura de bicicletas e trotinetas elétricas; de acordo com algumas notícias, houve rutura de stocks e há encomendas que prometem chegar, na melhor das hipóteses, em setembro. Ora, num futuro próximo, as seguradoras podem passar a oferecer um “seguro de mobilidade urbana, que acautelará quedas ou pequenos acidentes no trânsito”, para quem aderir a este tipo de mobilidade, aponta José Oliveira.

Apesar da perda de rendimentos de muitas famílias, houve um aumento de 2,1% na emissão de seguros de saúde, entre janeiro e maio deste ano, em Portugal. Os dados cedidos pela APS ao Expresso mostram que o número de seguros de saúde foi mesmo o único do ramo “Vida” que registou uma variação positiva. No ramo “Não Vida”, os seguros de Acidente e Doença registaram um aumento no volume de contratos de 6,7% e a proteção automóvel subiu 4,5%.

Entre maio de 2019 e maio deste ano, registou-se uma queda de 76,4% na subscrição dos Planos Poupança Reforma. Durante o mesmo período, os números de seguros de “VIDA” caíram 52,6%, enquanto os contratos “Não Vida” aumentaram 5,1%.

O ramo “Não Vida” tem uma correlação “muito direta” com o estado da economia de um país. “Vão são ser uns meses difíceis”, assume José Galamba, mas também lembra: nos quatro anos da troika “não houve uma redução muito significativa” no volume de assegurados.

Epidemias, sim, pandemias, não

Por regra, os seguros de saúde cobrem epidemias, “uma coisa localizada”, mas excluem pandemias, nota o presidente da APS. “Na essência, um seguro assume a responsabilidade por um determinado risco, quantificável. Muitos contribuem para que alguns possam usufruir desse apoio”, explica. Uma pandemia é uma situação generalizada, é um fenómeno imensurável. Nessas situações, “as políticas de saúde pública devem ser centralizadas pelos governos”, diz.

Esta falha de cobertura não passou despercebida ao setor. Nos últimos meses, algumas seguradoras passaram a oferecer “cláusulas de proteção de rendimentos”. Dito de outra forma: caso a pessoa assegurada fique doente devido à covid-19, “a seguradora supre a perda de ordenado”.

Ao nível europeu e a pensar no futuro, estão a ocorrer conversações entre a Comissão Europeia e as grandes empresas seguradoras. O presidente da APS revela que está a ser discutido “um mecanismo” de resposta a cenários de pandemia: “caberá às empresas seguradoras dar resposta até determinado nível, depois passará a ser responsabilidade dos governos”, revela.

Incêndios e alterações climáticas

As alterações climáticas são uma das maiores preocupações e prioridades para as seguradoras. Se as pandemias, para já, estão de fora, há cenários de catástrofe - inundações, incêndios, terramotos – que já são acautelados. “Aí, a situação é um bocadinho diferente. Os modelos usados para calcular o prémio do seguro sabem a probabilidade de ocorrência. Ou seja, há um cenário que se pode conjugar”, diz.

O risco de incêndio nos últimos anos tem sido objeto de atenção particular. O número de eventos e a gravidade têm aumentado, como mostrou o “caso paradigmático de 2017”. De acordo com a APS, este incremento “ainda não se sentiu nos prémios”. Todavia, José Oliveira nota: “Se tivermos muitos 'Pedrogãos' a acontecer nos próximos anos, podemos ter um aumento do preço dos seguros.”

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