Sociedade

Segurança Social confirma que rendimento social de inserção foi cortado a José Lopes

José Lopes com o realizador José Oliveira, num dos últimos filmes em que participou. O ator foi encontrado morto numa tenda há uma semana
José Lopes com o realizador José Oliveira, num dos últimos filmes em que participou. O ator foi encontrado morto numa tenda há uma semana
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Há nove anos que existia um processo de ação social relacionado com José Lopes, o ator cujo corpo foi encontrado dentro de uma tenda - vivia em extrema pobreza. A Segurança Social explica ainda que os apoios destinados ao ator “foram abandonados por vontade do próprio”

Segurança Social confirma que rendimento social de inserção foi cortado a José Lopes

Marta Gonçalves

Coordenadora de Multimédia

RECOMENDAÇÃO DE LEITURA ANTES DE CONSULTAR ESTE ARTIGO:
1. Esta é a história do Zé, que era muito amado mas que não se deixava ajudar. E que morreu sozinho naquela tenda
2. O que faltava saber na história do Zé: porquê a tenda, o corte do RSI e a junta de freguesia que garante que “ele não morreu ao abandono”

Há nove anos que existia um processo de ação social em nome de José Lopes. Ao Expresso, a Segurança Social confirma que o ator recebeu vários apoios sociais, incluindo benefícios económicos pontuais e outros a longo prazo, incluindo o rendimento social de inserção, que foi cortado em setembro de 2017 devido, garante a instituição, à “inexistência de pedido de renovação anual”.

“Desde 2010 que foram desencadeados apoios ao nível de alojamento de emergência e subsequente integração em resposta social que, posteriormente, o beneficiário viria, por sua vontade, a abandonar”, refere fonte oficial da Segurança Social. “Auferiu também rendimento social de inserção, prestação que foi cessada em setembro de 2017 na sequência da inexistência de pedido de renovação anual, requisito legal obrigatório à data”.

Para receber esta prestação social é necessário assinar um contrato e cumprir algumas obrigações, incluindo “ir às reuniões convocadas pelo Núcleo Local de Inserção, nas quais é definido, assinado e revisto o contrato de inserção”. Outras obrigações passam por declarar à Segurança Social toda e qualquer alteração à situação financeira ou de emprego e renovar o contrato anualmente. Não cumprindo alguma destas condições, está prevista a cessação do rendimento social de inserção.

Os apoios pontuais disponibilizados tinham como objetivo ajudar a pagar a renda e a alimentação.

A vida de José Lopes - Zé, para os amigos - complicou-se após o divórcio. Separou-se e viveu em casas arrendadas, passou por abrigos e vivia numa tenda junto à estação de comboios de Rio de Mouro, em Sintra, “há três ou quatro anos” - o presidente da junta de freguesia não sabe precisar a data exata. Diariamente ia buscar uma refeição quente ao Centro Comunitário e Paroquial.

Contactadas pelo Expresso, tanto a Casa do Artista como a Gestão dos Direitos dos Artistas (GDA) asseguram nunca ter recebido qualquer pedido de ajuda por parte de José Lopes ou por interposta pessoa.

José Lopes, 61 anos, foi encontrado morto há uma semana. Estava sozinho. Foi um homem do teatro e do cinema. Mas também da música. Foi da cultura. Foi ator, músico, mas também um homem de bastidores. Multitalentoso, contam os amigos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mpgoncalves@expresso.impresa.pt

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