De pés em terra firme, em solo lisboeta, depois de três semanas em alto mar, Greta Thunberg mostra-se cansada, mas feliz. Atravessar o Atlântico Norte entre os EUA e Portugal nesta altura do ano, não foi fácil. “A viagem foi dura, mas a experiência foi muito boa”, garante. O sangue vicking permitiu-lhe não enjoar, com excepção de “uma ligeira indisposição no primeiro dia”, apesar do mar agitado e das tempestades que apanhou pelo caminho. A jovem ativista das alterações climáticas diz que deixou a sua sorte nas mãos dos meteorologistas que lhes foram dando indicações e dos “maravilhosos marinheiros” que conduziram o catamarã 'La Vagabonde' a bom porto. “Nunca tive medo”, afirma em conversa com o Expresso, a SIC e a RTP.
A jovem ativista sueca, que se tornou um símbolo da luta contra as alterações climáticas, continua a tentar fazer a diferença. Já se imaginou a seguir múltiplas carreiras, mas só se o problema das alterações climáticas estiver resolvido. E ela teme que não o venha a estar tão cedo. Por isso, confessa que a sua causa, a luta pela ação climática, continuará a ser o centro da sua vida. “É isto que tenho de continuar a fazer”, diz.
Há quem a veja como uma ‘pop star’ ou uma espécie de messias, e quem a critique por essa imagem propagada pelas redes sociais e pela própria comunicação social. Porém, a jovem de 16 anos não se vê como tal. Humilde, diz: “Não me vejo como um ícone ou uma fonte de inspiração, mas como uma pequena parte num movimento muito grande. O facto de ter esta plataforma de comunicação permite que as pessoas me oiçam, o que me dá uma maior responsabilidade”. Vezes sem conta em intervenções públicas, como a que proferiu na cimeira do clima de Nova Iorque, em setembro, atirou: “Não me oiçam a mim, oiçam os cientistas”.
Atrás dela segue uma legião de jovens em Portugal e no mundo. As greves de sexta-feira à escola, que começaram com uma jovem sozinha à porta do Parlamento sueco, em Estocolmo, transformaram-se num movimento global que coloca milhões de jovens nas ruas em luta por um planeta com futuro, porque não há planeta B. “A vinda de Greta deu mais força ao movimento da greve climática estudantil cá”, assevera Matilde Alvim, uma das dirigentes do movimento Greve Climática Estudantil português. Satisfeita, faz suas as palavras de Greta: “Quando estamos a incomodar as pessoas no poder é porque estamos a fazer um bom trabalho”.
Para Greta tudo isto é fruto daquilo que o movimento “Fridays for Future” já alcançou. “Mostrámos como as gerações mais jovens se preocupam com o futuro e colocámos um sentido de urgência neste tópico”, lembra, “agora exigimos que outras gerações façam o mesmo”.
Depois de descansar um ou dois dias em Lisboa, Greta Thunberg tem como destino a Conferência do Clima que decorre até 13 de dezembro em Madrid. Pretende chegar a tempo da grande manifestação da greve climática global que se realiza na sexta-feira na capital espanhola. Para a COP25. “Depois de tantos encontros ao longo de tantos anos é bom que saia deste alguma coisa e que não seja um desapontamento”, espera. E recorda os líderes mundiais: “Estamos de olho em vocês”.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ctomas@expresso.impresa.pt