Apesar de procurar lançar uma mensagem de “esperança, não de desespero”, o secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou que “falta vontade política” para enfrentar a emergência climática e evitar os “impactes catastróficos” projetados. Porém, otimista, considera que ainda se pode inverter a trajetória.
No seu discurso de abertura da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP25), proferido esta segunda-feira em Madrid, Guterres instou os líderes mundiais a mostrarem “responsabilidade e a prestarem contas” das transformações que se propõem fazer “em direção a um objetivo comum”. Se não agirem em conformidade com a urgência climática estão a “cometer uma traição a toda a família humana e às gerações que hão de vir”, acusou.
Guterres lembrou que os últimos cinco anos foram os mais quentes desde que há registos; que “a biodiversidade na terra e no mar está sob ataque severo”; que “os desastres naturais relacionados com o clima são cada vez mais frequentes e mais destrutivos, com crescentes custos humanos e financeiros”, e que os oceanos estão a acidificar-se e a transformar-se de forma mais rápida do que era expectável pelos cientistas. E tudo isto conduz a “pontos de não retorno que avançam na nossa direção”, alertou o mais alto responsável da ONU. É o que Guterres chama de “retribuição do golpe”, depois de “décadas de guerra da espécie humana com o planeta”.
Porém, otimista, o secretário-geral da ONU lembra que os cientistas desenharam um roteiro que permite limitar a subida das temperaturas médias a não mais de 1,5ºC por comparação às da Era Pré-industrial e que “os meios e a tecnologia para atingir a neutralidade carbónica até 2050 estão ao alcance de todos”. Para se atingir essa neutralidade é necessário cortar as emissões de gases de efeito de estufa em 45% até 2030, diz.
Os compromissos assumidos até aqui pelos signatários do Acordo de Paris não vão nesse sentido e são considerados “desadequados” por Guterres, uma vez que conduzem a uma subida média das temperaturas entre 3,2 e 3,9ºC. Na cimeira do clima de Nova Iorque, em Setembro, 70 países comprometeram-se em atingir a neutralidade carbónica até 2050, mas os principais poluidores, sobretudo a China e os EUA, ainda não o fizeram. Por isso, o secretário-geral da ONU sublinha a necessidade de “aumentar a ambição e a responsabilidade coletiva”, considerando que a COP 25 é “uma oportunidade excelente” para isso.
Entre os pontos principais que Guterres quer ver acertados nesta COP25, que decorre até 13 de dezembro, estão a definição de um preço no carbono, o que será alcançado se os países representados em Madrid acordarem o chamado artigo 6.º do Acordo de Paris; e o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis.
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