Sociedade

Até ao final da semana, bebé abandonado em ecoponto terá alta hospitalar

Até ao final da semana, bebé abandonado em ecoponto terá alta hospitalar

“Até ao final desta semana” o recém-nascido deverá ter alta e ser entregue à responsabilidade da Segurança Social, adiantou fonte hospitalar ao Expresso. O périplo do bebé, contudo, ainda só está a começar. A Polícia Judiciária deteve na quinta-feira uma mulher de 22 anos, que morava na rua, suspeita de abandonar a criança

Até ao final da semana, bebé abandonado em ecoponto terá alta hospitalar

Fábio Monteiro

Jornalista

O bebé ainda não tem nome, mas meio-Portugal sabe de quem se fala. Na terça-feira à tarde, foi encontrado “cheio de sangue”, com restos de cordão umbilical, abandonado num ecoponto na Avenida Infante D. Henrique, junto à discoteca Lux. Um sem-abrigo, que vasculhava o contentor, descobriu-o e pediu ajuda, alguém que chamasse o 112. O recém-nascido “tinha uma hemorragia ativa no cordão umbilical, estava em hipotermia e apresentava graves dificuldades respiratórias”, revelou o socorrista do INEM, Pedro Nunes, chamado ao local. O Ministério Público abriu um inquérito ao abandono - caso que está longe de ser singular. Em 2018, Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) registou 254 casos de crianças abandonadas, dez das quais tinham menos de seis meses de vida.

Há quatro dias, este bebé poderia ter morrido. A intervenção do INEM e o encaminhamento para o Hospital D. Estefânia, todavia, salvou-o. Passadas 12 horas de ter chegado à Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, o seu estado de saúde já estava “clinicamente estável”. Entretanto, as boas novas continuam a chegar. “Até ao final desta semana” deverá ter alta e ser entregue à responsabilidade da Segurança Social, adiantou fonte hospitalar ao Expresso. O périplo do recém-nascido, contudo, ainda só está a começar.

A Polícia Judiciária deteve na quinta-feira uma mulher de 22 anos, de origem cabo-verdiana e que morava na rua, suspeita de abandonar a criança. Ou seja, a possível mãe. A renúncia do filho não se deu “num quadro de perturbação mental”, terá sido um ato lúcido e planeado, apurou o Expresso. Em breve, a mulher será presente a tribunal para conhecer as medidas de coação. Em causa pode estar o crime de exposição ou abandono, punido com penas de 2 a 5 anos quando não está em causa a morte da criança.

A detenção da alegada progenitora ocorreu pouco depois da Polícia Judiciária ter acedido às imagens de videovigilância do ecoponto onde foi depositado o bebé. O registo foi cedido pelo Terminal de Cruzeiros de Lisboa, que tem no local uma câmara para vigiar um dos portões de segurança do porto.

Futuro incógnito

Apesar da detenção da suposta mãe, o destino do recém-nascido ainda não é fácil de descortinar. Na teoria, se fosse possível encontrar familiares com condições para o acolher, a Segurança Social daria preferência a essa opção, em vez de encaminhá-lo para uma instituição. Neste momento, porém, tendo em conta os últimos dados vindos a público, o primeiro cenário será pouco provável. Em último caso, o bebé recém-nascido poderá entrar para o sistema de adoção.

Na quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa, após uma passagem relâmpago pela Web Summit, fez questão de ir agradecer pessoalmente o “gesto cívico e humano” do sem-abrigo que salvou o bebé. Não por acaso, tentar retirar das ruas todos os sem-abrigo até 2023 tem sido uma das bandeiras do Presidente da República, Marcelo estava reunido com um grupo de sem-abrigo na terça-feira à noite, o mesmo dia em que o recém-nascido foi encontrado.

Nas redes sociais, o INEM divulgou uma fotografia do bebé, logo após ter sido retirado do ecoponto. Na descrição, lê-se: “Bem-vindo, puto! #vaiserfeliz” O “puto” ainda não tem nome, mas terá futuro.

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