Sociedade

Sócrates parte III. Os negócios da Venezuela e os milhões do amigo pródigo

Sócrates parte III. Os negócios da Venezuela e os milhões do amigo pródigo
TIAGO MIRANDA

Já começou o terceiro dia do interrogatório a José Sócrates vai ser dedicado ao Capitulo Venezuela da acusação do Ministério Público. Procuradores acusam Sócrates de ter recebido seis milhões para beneficiar interesses da empresa.Ex-PM negou ter sido o destinatário dos milhões pagos pelo grupo empresarial. Se houver tempo, Sócrates também será ouvido sobre os "empréstimos" do amigo Carlos Santos Silva

Sócrates parte III. Os negócios da Venezuela e os milhões do amigo pródigo

Rui Gustavo

Jornalista

O juiz Ivo Rosa agendou para o interrogatório de hoje a José Sócrates as acusações do Ministério Público relacionadas com os negócios do Grupo Lena na Venezuela.Os procuradores sustentam que o ex-governante foi subornado com seis milhões de euros para favorecer os negócios do grupo em vários negócios,com especial incidência neste país sul americano.

Não é certo que o juiz entre no capitulo talvez mais complicado para Sócrates: os milhões que passaram das contas de Carlos Santos Silva para o ex-primeiro ministro e que este justificou sempre como "empréstimos" que pretende pagar. O MP diz que Sócrates terá recebido das contas de Santos Silva 1,1 milhões de euros que usou para gastos pessoais e que lhe foram entregues em numerário através do motorista João Perna, mais cerca de meio milhão pela venda de imóveis da mãe ao amigo. E há ainda os 12 milhões de euros que o empresário Helder Bataglia confessou ter transferido para contas de Santos silva a pedido de Ricardo Salgado e que o MP diz ter tido como destinatário José Sócrates.

Mas o interrogatório deverá começar com a Venezuela.

Segundo a acusação do MP, José Sócrates “aceitou utilizar o seu cargo como primeiro-ministro” - para o qual foi eleito em 2005 - e as relações privilegiadas com o Governo venezuelano, então chefiado por Hugo Chavez “em benefício do Grupo Lena, a troco do recebimento de vantagens patrimoniais a que bem sabia não ter direito”, tendo-se “socorrido de colaboradores que lhe eram próximos e da sua confiança, a fim de, segundo as suas indicações, prestarem o específico apoio ao Grupo Lena” naquela missão. O preço, segundo o MP, foram seis milhões de euros pagos pelo grupo que terão passado pelas contas do administrador Joaquim Barroca e de Carlos Santos Silva antes de chegar a José Sócrates.

Mais de 50 das 4083 páginas da acusação são dedicadas aos negócios na Venezuela. São descritas as alegadas ações de influência do ex-PM português a favor do Grupo Lena, as contrapartidas que alegadamente lhe foram pagas, os avanços e recuos da operação, as queixas do grupo perante as hesitações do Governo de Chavéz e os detalhes do negócio que culminou com a construção de 12.512 habitações no país sul-americano.

De acordo com o Ministério Público, Carlos Santos Silva, alegado testa de testa de ferro do ex-primeiro-ministro, terá recebido nas suas contas na Suíça — que os investigadores acreditam pertencer, na verdade, a Sócrates — mais de 6 milhões de euros, na sua maioria pagos por Joaquim Barroca, administrador do Grupo Lena.

Em declarações à comissão de inquérito parlamentar à gestão da CGD, Joaquim Barroca, que também é acusado na Operação Marquês, negou que José Sócrates tenha sido decisivo na atribuição de qualquer obra na Venezuela. Em entrevista ao Expresso, o atual presidente do grupo, Joaquim Da Conceição, que é testemunha no processo, atribuiu o sucesso da empresa na Venezuela ao trabalho do grupo admitindo que Sócrates teve alguma influência mas frisando que “não foi decisivo em nada”.

Na sessão de ontem, Sócrates foi confrontado com as suspeitas relacionadas com a atribuição do projeto TGV a um consórcio de que fazia parte o Grupo Lena, Negou qualquer intervenção nesta decisão. "Nem sabia que a Lena estava no consórcio", garantiu ao juiz. E lamentou que o PSD tivesse abandonado o projeto Caia-Poceirão. "Foi um erro."

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