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A semana de negociações que não impediu a greve dos motoristas

A semana de negociações que não impediu a greve dos motoristas

A greve dos motoristas de matérias perigosas arrancou na madrugada desta segunda-feira. Na última semana, houve várias tentativas de acordo, mas todas acabaram por falhar. A paralisação tem na sombra a requisição civil. O Governo está vigilante

A semana de negociações que não impediu a greve dos motoristas

Fábio Monteiro

Jornalista

Sete dias, 168 horas, é uma eternidade em vida política. A última semana, todavia, esfumou-se sem que qualquer consenso tivesse sido conseguido entre a Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) e o Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP). A paralisação há meses anunciada arrancou mesmo na madrugada desta segunda-feira e não há data para acabar.

Desde as seis da manhã, António Costa e ministros entraram em alerta: ao mais pequeno sinal de os serviços mínimos não estarem a ser cumpridos, o primeiro-ministro irá decretar a requisição civil, anunciou Luís Marques Mendes no domingo à noite, no seu espaço de comentário habitual na “SIC”.

Há uma semana, 5 de agosto, chegou a estar no ar a possibilidade desta greve vir a ser desconvocada. Foi o próprio porta-voz do SNMMP, Pardal Henriques, a assumi-lo em declarações ao Expresso. O advogado afirmou que tinha uma proposta para fasear o compromisso de chegar aos 900 euros de salário-base para os motoristas ao longo de seis anos e não apenas em dois. A ANTRAM estaria receptiva a este cenário - na teoria.

Ainda no mesmo dia, o Governo anunciou que tinha proposto um novo começo nas negociações entre os motoristas e os patrões. Para isto, pretendia acionar um “mecanismo legal de mediação”. Os sindicatos, porém, recusaram. E assim Pedro Nuno Santos (e o Governo) ficou fora da equação.

Já na quarta-feira, 7 de agosto, sem solução à vista e poder de intervenção nas negociações, o Governo decretou serviços mínimos entre 50% e 100% para a greve dos motoristas, medidas anunciadas pelo ministro do Trabalho, Vieira da Silva, em conferência de imprensa, em Lisboa.

Greve à vista

Na quinta-feira, 8 de agosto, Pardal Henriques garantiu que a greve ia mesmo avançar. “Quando assistimos a esta aliança clara contra os direitos democráticos de todos os portugueses, a luta é desigual“, disse. Segundo o porta-voz do SNMMP, “a definição de serviços mínimos generalizados“ constituía a “anulação do direito à greve“. O sindicato anunciou que ia interpor uma providência cautelar contra os serviços mínimos.

Não foi preciso esperar muito para a iniciativa do SNMMP cair em saco roto. Menos de 24 horas depois, a providência cautelar interposta pelos sindicatos dos motoristas de matérias perigosas contra os serviços mínimos decretados pelo Governo para a greve foi rejeitada pelo tribunal.

O Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa considerou que não existia razão para ir contra os serviços mínimos, entre os 50% e os 100%, estabelecidos pelo Governo.

Dois dias de avisos

Os sindicatos convocaram para sábado plenários com os seus associados. Nenhuma das forças sindicais recuou.

Já ontem, António Costa veio deixar um aviso: os serviços mínimos são para cumprir. Os sindicatos “têm o dever estrito de, já que fazem o país pagar este preço imenso por este conflito, de assegurar o mínimo que lhes compete assegurar, que são os serviços mínimos”, disse.

“A violação de uma eventual declaração de requisição civil não pode passar incólume. A ideia que eu ouço muitas vezes as pessoas dizerem: ‘a requisição civil é decretada, mas isso não tem consequências…’ Tem. A violação da requisição civil constitui um crime de desobediência e foram dadas instruções às forças de segurança para praticarem os atos necessários para, nessa eventualidade, haja efetivamente consequências”, afirmou.

12 de Agosto

Nenhum oráculo sabe dizer ao certo quando irá terminar a paralisação. Talvez precavido, talvez irónico, Pardal Henriques chegou ao piquete de greve em Aveiras de trotineta elétrica. "Cheguei de trotineta porque na última greve [em abril] fui acusado de chegar de Maserati e porque não sabemos quanto tempo vai durar esta greve”, disse.

"Os portugueses vão aguardar até que a Antram [Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias] apresente uma proposta que seja razoável para que se possa desconvocar a greve. Até lá estaremos um dia, uma semana, um mês, o tempo que for necessário", garantiu o porta-voz do SNMMP.

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