A onda de calor que assolou a Europa em finais de junho estabeleceu recordes de temperaturas nunca antes medidos. Os termómetros subiram em média 2ºC acima do normal para a época no continente Europeu. Mas, comparando com ondas de calor semelhantes, fixaram-se 4º graus Celsius acima do registado há um século, indica a Organização Meteorológica Mundial.
Certo é que este mês de Junho foi o mais quente dos últimos 100 anos. A intensidade da onda de calor vivida, que se estimava só ocorrer a cada 30 anos, revela “uma escalada 10 vezes superior ao normal”, sublinha ao Expresso o físico da atmosfera Pedro Matos Soares. “A frequência de uma onda de calor no mês de Junho, como a da semana passada, que deu origem a temperaturas anormalmente elevadas, é quase dez vezes maior nas duas primeiras décadas deste século XXI do que nas últimas décadas do século XX”, explica o investigador do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), que tem trabalhado em projetos do Copernicus — serviço europeu de investigação em Alterações Climáticas.
Pedro Matos Soares lembra também que “as projeções para as ondas de calor, por exemplo em Portugal, para o fim do século XXI são de um aumento dessa ordem. O que nos mostra claramente que estes eventos se inscrevem já nessas mesmas projeções e que estamos perante sinais evidentes de crise climática”.
Dados do centro de previsões meteorológicas do Copernicus indicam que as temperaturas médias em Junho na Europa estiveram 1ºC mais altas do que em 1999. Em França o novo recorde dos termómetros são 45,9º e foram registados em Gallargues-le-Montueux, a 28 de junho. Na Alemanha o "top+" de sempre foram 39,6°C a 30 de Junho. Já na Áustria os termómetros estiveram 4,5ºC acima do máximo alguma vez verificado em Junho no país.
Ainda não há dados sobre as consequências desta onda de calor na Europa e no mundo (na Índia os termómetros ultrapassaram os 50ºC). Recorde-se que a onda de calor de 2003 levou à morte prematura de 70 mil pessoas na Europa. Porém, sublinha Pedro Matos Soares, “as autoridades europeias adotaram agora medidas de contingência nalguns destes países, fechando escolas ou serviços para proteger as pessoas, e isto vem reforçar a importância da emergência climática”.
Os cientistas não têm dúvidas de que na base das alterações climáticas e dos fenómenos extremos cada vez mais frequentes está a atividade humana e as suas consequentes emissões de gases de efeito de estufa, e sublinham a necessidade de se declarar a emergência climática.
Recorde-se que o último Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas (IPPC), divulgado em 2018, alertava para a necessidade de impedir que as temperaturas médias globais subam mais de 1,5ºC face às registadas na era Pré-industrial. Mas os termómetros já subiram desde então cerca de 1ºC globalmente e tendo em conta os compromissos até agora assumidos pela comunidade mundial, esta subida vai pelo menos triplicar até final do século.
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