Sociedade

Raio-X às disciplinas: quais as escolas com as melhores médias

Raio-X às disciplinas: quais as escolas com as melhores médias
Rui Duarte Silva

Português, Matemática, Biologia e Física são as principais provas de exame. E o ranking das escolas também permite saber onde é que se encontram as melhores médias. O Expresso foi falar com os professores que levaram os alunos a exame para perceber o que fizeram de diferente

Todos os anos, as turmas que fazem exames nacionais são diferentes e mesmo as melhores escolas assistem a oscilações das médias, para cima ou para baixo, nas várias disciplinas. Os dados que permitem construir os rankings das escolas também mostram quais os estabelecimentos de ensino que se destacaram.

O Expresso foi à procura das melhores médias nos exames de Português, Matemática, Fisica e Química, Biologia e Geologia e História. Cada professor faz a análise das suas prioridades e elenca as explicações possíveis para os bons resultados.

PORTUGUÊS
Escola Básica e Secundária de Mação
14,01 valores
11 valores (média nacional)

Há dez anos que a secundária de Mação tem os mesmos professores de Português e essa é a principal explicação do diretor da escola para as boas notas nos exames. “Temos professores que acompanham os alunos desde o 7.º ano e essa manutenção do corpo docente garante um comportamento padrão”, aponta José António Almeida. E esse é o caso de alguns dos 22 estudantes que fizeram o exame de Português no passado ano letivo, com uma média de 14,01 (três valores acima da média nacional).

Além da estabilidade que isso transmite aos alunos, ter os mesmos professores permite à direção da escola atribuir a cada docente o ciclo de ensino com o qual se sente mais à vontade e ao qual melhor se adapta. Dos oito professores do departamento apenas dois são de Mação. “Os restantes gostaram da escola e preferiram ficar. Temos sempre dois professores a quem habitualmente atribuo as turmas do secundário.”

Sublinhando o contexto socioeconómico difícil da maior parte dos alunos do agrupamento, o diretor lembra que as dificuldades económicas fazem recair sobre a escola uma maior responsabilidade, dada a impossibilidade de os pais recorrerem a explicações fora do tempo letivo.

MATEMÁTICA
Escola Secundária de Nelas
14,22 valores
10,2 valores (média nacional)

Os alunos que fizeram exame de Matemática no passado ano letivo tiveram contacto com a disciplina todos os dias. “Além das sete horas de aulas por semana, o professor estava disponível nos restantes dias para dar apoio e as taxas de assiduidade dessas aulas, que não era obrigatórias, eraM de 100%. A disponibilidade do professor conjugada com o interesse dos alunos e aliada ao facto de as famílias valorizarem a escola e apoiarem os alunos fez a diferença”, descreve Olga Carvalho, diretora do agrupamento de Nelas.

Durante cinco anos, a turma teve o mesmo professor de Matemática. “Era uma turma com objetivos bem definidos, grande motivação, muito focados no estudo, no trabalho e em obter resultados”, descreve Olga Carvalho, diretora do agrupamento de Nelas. “Congratulamo-nos muito com este resultado, até porque normalmente uma escola do interior tende a ser vista de uma perspetiva menos positiva, dado o contexto em que se insere.”

BIOLOGIA E GEOLOGIA
Escola Básica e Secundária Clara de Resende (Porto)
14,21 valores
10,8 valores (média nacional)

Há mais de três décadas que Dalila Amandi prepara alunos para exame. No ano passado, saiu da escola onde esteve 24 anos, a secundária Alexandre Herculano, com um contexto socioeconómico mais desfavorecido e médias mais baixas. Entrou na Clara de Resende, também no Porto. “A grande diferença entre as duas escolas é o meio económico. Fico muito contente por saber da média, mas eu sou a mesma e o trabalho é o mesmo”, diz a professora, defendendo como os rankings podem ser “redutores”.

No passado ano letivo, levou a exame uma turma de alunos de 11º ano, oriundos da periferia do Porto, que entraram na escola só no secundário, “focados e com objetivos bem definidos”. Foi mais de meio caminho andado, admite. “Isso também permite exigir mais. Para se habituarem, dou sempre testes com a estrutura de exame, abrangendo toda a matéria para que sejam obrigados a tê-la sempre em dia.” Só que isso, acrescenta, exige um ritmo de ensino acelerado. “Os nossos programas são muito aprofundados e dos mais avançados da União Europeia. Se os currículos fossem mais leves conseguiríamos variar mais o trabalho.”

FÍSICA E QUÍMICA
Escola Básica e Secundária Clara de Resende
14,88 valores
10 valores (média nacional)

“As notas devem-se muito aos alunos e ao local. Já estive noutras escolas e eu sou a mesma. Os encarregados de educação vivem mais preocupados e a envolvência ajuda. Portanto, os bons resultados também não são surpresa”, diz a subcoordenadora do departamento de Física e Química, Maria João Magalhães. “Os alunos que vêm para aqui já sabem que a escola é exigente e vêm a pensar nos resultados.” Há já muitos anos que a professora acompanha alunos do 10º e 11º ano até ao exame e o trabalho é sempre o mesmo.

“Um dos nossos princípios é garantir que os alunos passam mesmo por todas as atividades laboratoriais e não apenas algumas, como acontece na maior parte das escolas, incluindo as privadas.” Esse contacto direto, segundo a docente, permite uma melhor preparação. “Depois pode sempre haver oscilações nas notas de ano para ano, partindo já de um nível elevado de qualidade das turmas.” Trabalhar com alunos que querem entrar em cursos com médias elevadas, que têm explicações fora da escola e encarregados de educação que os pressionam, é a principal explicação, descreve.

HISTÓRIA
Escola Secundária do Fundão
12,67 valores
9,4 valores (média nacional)

Enquanto os alunos faziam o exame nacional de História, a professora estava numa sala ao lado, receando que as diferenças introduzidas na estrutura da prova tivesse impacto nos seus resultados. “Sabia que estavam preparados para o fazer, mas como este ano o exame foi muito diferente, receei que fosse um choque para eles. Afinal, acharam-no mais simples do que as provas que fizeram ao longo do ano”, conta Ana Brioso, 59 anos, professora de História da secundária do Fundão, onde também estudou.

“Esta turma tinha alunos muito bons. Mas o trabalho que fizemos foi o normal de todos os anos. Como o exame nacional versa pelos conteúdos do 10.º, 11.º e 12.º., os alunos sabem que o programa é para cumprir e têm de se envolver nesse processo. Fizemos um trabalho baseado em rigor e com análise diária de documentos diversos”, explica a professora, que acompanha sempre as turmas ao longo de todo o secundário e que aposta em visitas de estudo dentro da região para que os estudantes “conheçam as suas raízes”.

“Muitos dos nossos alunos vêm das aldeias, com origens socioeconómica humildes, nunca foram ao teatro e aqui só há cinema esporadicamente ao sábado. Mas ainda assim não ficam aquém dos outros, o que prova que o conhecimento se pode adquirir de forma diferente”, conclui.

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