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Há lampreia? Tirando esta, nem por isso. Época arranca com escassez de peixe

Há lampreia? Tirando esta, nem por isso. Época arranca com escassez de peixe
Getty Images

Os habituais avisos nas janelas dos restaurantes especializados na confeção do ciclóstomo tardam, este ano, em ser afixados. A razão é simples e explica-se com a mesma formulação que neles se costuma encontrar: há (muito pouca) lampreia

Tiago Pais

O único peixe cujo modo de confeção se encontra descrito na primeira compilação de receitas de que há registo em Portugal, o “Caderno da Infanta Dona Maria”, é a lampreia. Nessa época, século XVI, os produtos do mar eram consumidos sobretudo pela plebe, já que a nobreza dava primazia à carne. A lampreia era uma exceção — presença habitual em banquetes reais por toda a Europa, teve até direito, uns séculos antes, de constar na causa de óbito do rei Henrique I de Inglaterra: a surfeit of lampreys, ou excesso de lampreias.

Este ano, porém, o monarca dificilmente correria esse risco. Porque o cenário global é precisamente o contrário: escassez de lampreias. Uma escassez tal que, mais do que nunca, transformou o ciclóstomo num produto de luxo, ao alcance de poucos. Não só é preciso conhecer quem esteja a conseguir ir ao mercado adquirir alguns exemplares, como estar disposto a pagar preços que se aproximam dos €200 o quilo para se deliciar com a sua textura firme, mas delicada, e o seu sabor meio férreo, meio carnal, a que só um adjetivo faz, verdadeiramente, jus: indescritível.

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