3 fevereiro 2023 22:06

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Os habituais avisos nas janelas dos restaurantes especializados na confeção do ciclóstomo tardam, este ano, em ser afixados. A razão é simples e explica-se com a mesma formulação que neles se costuma encontrar: há (muito pouca) lampreia
3 fevereiro 2023 22:06
O único peixe cujo modo de confeção se encontra descrito na primeira compilação de receitas de que há registo em Portugal, o “Caderno da Infanta Dona Maria”, é a lampreia. Nessa época, século XVI, os produtos do mar eram consumidos sobretudo pela plebe, já que a nobreza dava primazia à carne. A lampreia era uma exceção — presença habitual em banquetes reais por toda a Europa, teve até direito, uns séculos antes, de constar na causa de óbito do rei Henrique I de Inglaterra: a surfeit of lampreys, ou excesso de lampreias.
Este ano, porém, o monarca dificilmente correria esse risco. Porque o cenário global é precisamente o contrário: escassez de lampreias. Uma escassez tal que, mais do que nunca, transformou o ciclóstomo num produto de luxo, ao alcance de poucos. Não só é preciso conhecer quem esteja a conseguir ir ao mercado adquirir alguns exemplares, como estar disposto a pagar preços que se aproximam dos €200 o quilo para se deliciar com a sua textura firme, mas delicada, e o seu sabor meio férreo, meio carnal, a que só um adjetivo faz, verdadeiramente, jus: indescritível.