Valerie June Hockett nasceu há 43 anos na microcidade de Humboldt, no estado norte-americano do Tennessee, hoje lugar de vida de oito mil pessoas, com uma sala de espetáculos, um banco, um jornal, e um quarteirão que ajuda a recordar as origens do local, no cruzamento entre duas linhas de caminho de ferro. Dividindo o tempo entre Humboldt e Brooklyn, isso não bastou, porém, para que todos os mistérios da ruralidade sulista lhe tivessem sido revelados. Como conta à “No Depression”, “Já vi tudo: cobras, rãs, tartarugas, arganazes, guaxinins, todo o tipo de pássaros. Mas nunca tinha visto um mocho.” A aparição deu-se numa madrugada, quando pelas cinco da manhã do Tennessee, Valerie bebia a sua chávena de chá. “O nevoeiro começava a levantar e ali estava o mocho, eu e a minha chávena de chá a ferver... perguntei-me: ‘Isto estará a acontecer?’ Ele não parava de olhar para mim do outro lado do charco e porque, se nos agitamos, muitas vezes os animais assustam-se e fogem, decidi manter-me praticamente imóvel e tomar o meu chá com o mocho.” O ritual repetiu-se de todas as vezes que ela voltou a deslocar-se a Humboldt e, Valerie sendo Valerie, não apenas se dedicou a descobrir tudo o que, acerca de mochos, se lhe cruzava no caminho como o colocou em primeiro lugar no trio do título do seu novo álbum — “Owls, Omens And Oracles”. Juntamente com os augúrios e os oráculos, tudo ferramentas de trabalho de quem, por muito que tenha de escutar impropérios como ‘Oh, that’s so fake. That’s just hippie shit’, não desiste de se apresentar como “a person who works in positivity and joy”.
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