Na Casa da Música (CM), fim de ano é fim de temporada. Este concerto, “E Depois do Adeus” era um must, pois marcava a despedida de António Jorge Pacheco, diretor artístico da instituição, após 15 anos de trabalho (embora a sua associação à Casa e à causa remonte a 2001). Neste século, a sua ação foi o que houve de mais notável na música em Portugal. Não só encomendou 260 obras a 121 compositores (entre os quais Harrison Birtwistle, Unsuk Chin, Peter Eötvös, Magnus Lindberg, Wolfgang Rihm, Kaija Saariaho e 56 portugueses) como formou um público atento, capaz de as ouvir e aceitar. Multiplicou as forças musicais associadas à CM — além da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música (OSPCM), uma Orquestra Barroca, Coros Adulto e Infantil, mais a pérola do conjunto, o Remix Ensemble (vocacionado para a música contemporânea). E meteu várias lanças em África, levando OSPCM e demais formações da CM aos maiores centros musicais europeus: Madrid, Barcelona, Paris, Luxemburgo, Londres, Amesterdão, Colónia, Dresden, Hamburgo, Viena, etc. Ainda em setembro passado, a OSPCM triunfou em Munique, a convite da Musica Viva da Bayerischen Rundfunks no âmbito do concerto anual da Ernst von Siemens Music Foundation, tocando obras dificílimas de Emmanuel Nunes e Helmut Lachenmann! Nas palavras do diretor artístico: “Com todos os meus defeitos, acho que sempre consegui manter dois princípios: nem me deixar deslumbrar nem intimidar.” Sim, há gente excecional na cultura, em Portugal; os conselhos de administração, com membros que não sabem nem gostam, e a mania da agência de empregos para os rapazes e raparigas das suas seitas é que, por vezes, estragam tudo. Trata-se do chamado ‘problema português’ definido há um século pelo historiador e pedagogo Augusto Reis Machado. Servir-se não é o mesmo que servir...
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt