Música

“Songs of Innocence and Experience 1965-1995” é a retrospetiva definitiva de Marianne Faithfull

8 outubro 2022 8:42

Marianne Faithfull, fotografada em Liverpool em 1965

terry mealy/mirrorpix/getty images

Os 30 anos dos dois primeiros atos da carreira de Marianne Evelyn Faithful, baronesa Erisso Von Sacher-Masoch, para conhecer em “Songs of Innocence and Experience 1965-1995”

8 outubro 2022 8:42

Horas antes de subir ao palco do Coliseu de Lisboa, no qual, em 1993, se apresentaria pela primeira vez em Portugal, no bar do hotel onde ficara instalada, Marianne Faithfull recordava os primeiros passos, em meados dos anos 60, de modo muito pouco nostálgico: “Nessa altura, eu tinha um tremendo desprezo pela música pop. Quando jovem, artisticamente, era uma enorme snob. Queria ser atriz, tinha uma excelente voz que me fazia pensar numa carreira na ópera, queria dedicar-me a qualquer coisa séria. E, não sei muito bem como, acabei por ser desviada (de certo modo, por engano) para a pop. Agora, sinto-me muito satisfeita e reconhecida por isso. Mas, na altura, o que cantava parecia-me puro lixo. Em certa medida, foi só quando comecei a entender o Andy Warhol que realmente compreendi que a pop também era arte. Até aí, não passava de matéria descartável, pronta para usar e deitar fora.”

É, praticamente, essa mesma extensão de vida que “Songs of Innocence and Experience 1965-1995” cobre: os 30 anos dos dois primeiros atos da carreira de Marianne Evelyn Faithful, baronesa Erisso Von Sacher-Masoch. No primeiro, gravou 6 álbuns de refinado ecletismo pop/folk/country — Bacharach, Beatles, Rolling Stones, Phil Ochs, Dylan, Tom Paxton, Bert Jansch, Ewan MacColl, Serge Gainsbourg, Donovan, Tim Hardin, Waylon Jennings — que, no entanto, nunca a satisfizeram: “A minha ‘primeira voz’ não era a verdadeira, tinha uma voz muito melhor do que isso. Era mezzo-soprano, tinha tido uma educação musical clássica e, quando comecei a gravar, não me deixaram usá-la. O que se ouvia era falso.” Seria apenas após a descida junkie aos infernos que, com o avassalador “Broken English” (1979) — “Foi muito difícil mas fi-lo. Era o resultado de tanta frustração, ressentimento e fúria que tinha de ser mesmo assim. Na altura, estava convencida de que iria ser a última coisa que faria” —, as comportas se abririam e Marianne, a partir de “Strange Weather” (1987) e “A Secret Life” (1995) caminharia, de mãos dadas, com a nata pop/rock. Com preciosos 22 inéditos em edição vinil e 9 no duplo CD, “Songs of Innocence and Experience” detém-se naquele propósito que, há 10 anos, Marianne descrevia ao “Guardian”: “Nestes últimos anos, o meu objetivo tem sido o de encontrar alguma harmonia entre mim e Marianne Faithfull. Era ela que utilizava drogas e bebia, era ela dentro da minha cabeça. Ela, a Fabulosa Besta, como eu lhe chamo. Não posso dar-lhe ouvidos, tenho de ter sempre muito cuidado”.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.