20 novembro 2022 11:26

Damião de Góis trabalhou na feitoria portuguesa de Antuérpia, estudou em Pádua e Lovaina e conviveu com Martinho Lutero, Erasmo e Inácio de Loyola. Regressou a Portugal em 1545 para ser guarda-mor dos arquivos da Torre do Tombo
As diferentes formas de olhar para o mundo, inspiradas pela vida extraordinária de dois viajantes portugueses do século XVI, dão forma a “A Torre dos Segredos”, um livro fascinante de Edward Wilson-Lee
20 novembro 2022 11:26
O novo livro do professor Edward Wilson-Lee, da Universidade de Cambridge, começa como um inesperado thriller policial. “A Torre dos Segredos” abre com a cena de um crime obscuro, cometido nos últimos dias de janeiro de 1574, na vila de Alenquer. A vítima deste homicídio tinha quase 72 anos, chamava-se Damião de Góis e fora durante décadas guarda-mor do arquivo real português. A morte foi misteriosa e terá tido requintes macabros (morreu estrangulado ou sufocado, ou talvez mesmo carbonizado). Mas por que razão alguém quereria matar este viajante erudito, homem de cultura e figura maior do Renascimento português e europeu?
Wilson-Lee ajuda-nos a resolver o mistério nos 17 capítulos seguintes do livro. Góis é certamente uma das personagens mais fascinantes da História de Portugal. Na primeira metade da vida trabalhou na feitoria portuguesa de Antuérpia, estudou nas universidades de Pádua e Lovaina e viajou por terras distantes como a Polónia, a região do Báltico ou Moscovo. Era um dos homens mais bem conectados na Europa. Conviveu com Martinho Lutero em Friburgo, foi amigo íntimo de Erasmo e acolheu na sua casa o fundador dos jesuítas Inácio de Loyola. Góis regressou a Portugal em 1545 com a mulher holandesa e três filhos. Passou grande parte do resto da vida como guarda-mor dos arquivos da Torre do Tombo, então instalada no Castelo de São Jorge. Escreveu as crónicas dos reis D. Manuel e D. João II.