16 outubro 2022 9:14

Hannah Arendt viveu tempos sombrios, duas guerras e um campo de concentração. Escreveu uma obra de referência sobre o totalitarismo e criou o conceito (polémico) de “banalidade do mal”
getty images
Em “Hannah Arendt — Uma Biografia”, Samantha Rose Hill dá-nos um dos retratos possíveis da filósofa cuja obra encontra hoje novas ressonâncias
16 outubro 2022 9:14
O desenho sinuoso da vida de Hannah Arendt torna impossível uma biografia ‘definitiva’. Aquela que a Relógio D’Água acaba de publicar, da autoria de Samantha Rose Hill — membro do Hannah Arendt Center for Politics and Humanities —, aborda a filósofa judeo-alemã na sua intemporal singularidade. Detendo-se no que lhe foi mais edificante e nas influências que recebeu, o retrato feito esclarece por que Arendt continua a ser necessária em pleno século XXI. Consciente de que “pensar é em si mesmo perigoso”, ela defendeu em 1958: “O que proponho é muito simples: nada mais do que pensar no que estamos a fazer.” O pensamento não está desligado da experiência. E qualquer pensador deve estar disposto a começar de novo.
Hannah Arendt recomeçou várias vezes. Rejeitou o sectarismo das ideologias e não se definiu como feminista, embora defendesse a equidade entre homens e mulheres. Não fez parte das escolas filosóficas do seu tempo, como a fenomenologia. Em 1933 abandonou a filosofia académica para se concentrar no pensamento político. “A partir daquele momento, senti-me responsável. Nunca mais fui da opinião de que uma pessoa pode ser simplesmente espectadora.” Criticava os académicos que cegaram perante o advento do nacional-socialismo. Como judia, envolveu-se na resistência possível numa Alemanha cada vez mais contaminada pela segregação, e foi presa pela Gestapo por coligir, a pedido da Organização Sionista Alemã, declarações antissemitas publicadas na imprensa. Mas se foi sionista durante os anos da guerra, nunca quis mudar-se para a Palestina: o nacionalismo não a seduzia, nem a fundação de um Estado-nação judaico.