Annie Ernaux — Os Anos Super 8”, ou simplesmente “Les Années Super 8” — uma homenagem à película favorita dos home movies, muito em voga nos anos 60 e 70, antes do advento do vídeo —, surgiu em contraciclo quando foi pela primeira vez mostrado ao mundo, em maio passado, na Quinzena dos Realizadores de Cannes. Nos grandes festivais, tudo é atropelo e azáfama, pressa, um rebuliço constante. Mas este filme trabalha em sentido absolutamente inverso e convida-nos para outras marés, pois tudo aqui é intimismo a folhear com vagar as memórias e o tempo, pese embora a jornada, muito mais intranquila do que a voz doce, em off, que nos acompanha.
Essa voz é de Annie Ernaux, escritora que o cinema tem ‘visitado’ com frequência nos últimos tempos — em “Paixão Simples” (Danielle Arbid) ou “O Acontecimento” (Audrey Diwan) — e que está naturalmente nas bocas do mundo desde que venceu, em outubro, o Prémio Nobel da Literatura. “Os Anos Super 8”, numa primeira abordagem, é um álbum de família, um documentário que reúne sobretudo as viagens de férias de Annie, do então seu marido Philippe e dos dois filhos do casal, Éric (n. 1964) e David Ernaux-Briot (n. 1968). São imagens sem som, captadas pela câmara Super 8 Bell & Howell que o casal comprara no início dos anos 70. Annie era nessa altura, ainda e só, uma professora de letras que lecionava num liceu e que começava timidamente a tatear uma carreira literária. O seu primeiro romance autobiográfico (género a que dará privilégio), “Les Armoires Vides”, é publicado dois anos depois, em 1974.
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