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“Uma Bela Manhã”, novo filme de Mia Hansen-Løve, mostra-nos uma mulher na encruzilhada

Os atores Melvil Poupaud, Camille Leban Martins e Léa Seydoux em cena no filme “Uma Bela Manhã”
Os atores Melvil Poupaud, Camille Leban Martins e Léa Seydoux em cena no filme “Uma Bela Manhã”

A realizadora regressa ao romanesco familiar das suas primeiras obras e sobe de nível em “Uma Bela Manhã”, filme com ótimos atores e de inspiração autobiográfica

“Uma Bela Manhã” é um curativo para Mia Hansen-Løve. As suas propriedades medicinais tanto se aplicam à vida como à obra desta cineasta francesa de 41 anos. Mia não se importaria que este aspeto fosse aqui sublinhado com um certo atrevimento. Se nunca realizou documentários sobre ela própria, a verdade é que a sua vida, ainda que em doses variáveis, tem passado em filigrana por todas as oito longas-metragens de ficção que realizou nestes últimos 15 anos. Casos houve em que as histórias foram decalques biográficos diretos. Noutros, talvez não tenham sido mais do que estados de espírito, sopros momentâneos, impressões causadas por algum encontro ou por algum lugar. No caso de “Uma Bela Manhã”, a inspiração biográfica não deixa contudo margem para dúvidas.

Este filme delicado apresenta-nos a Sandra Kienzler (Léa Seydoux), mulher de meia-idade, mãe de uma criança, viúva, sabe-se depois, há cinco anos. Ela é tradutora de germânicas. Sandra vacila entre o auxílio ao pai, Georg (Pascal Greggory), ex-professor de filosofia a sofrer de doença neurodegenerativa galopante, e o reencontro com um amigo de longa data, Clément (Melvil Poupaud), casado, também com filhos, e que num ápice se torna seu amante. O pai e o novo namorado provocam descargas emocionais diferentes mas igualmente intensas. São dois polos afetivos opostos, um dominado pela senilidade, outro pela redescoberta da paixão, mas ambos levam Sandra para a vertigem. A parte do sofrimento paterno foi, de facto, inspirada pela doença do pai da cineasta e pela forma como ela o acompanhou até aos seus últimos dias de vida. Já a história de amor com Clément, por outro lado, é narrativa em contrapeso, uma alegria em potência — e se este filme nos convence é porque, acima de tudo, consegue que estes dois registos se equilibrem e coexistam sem que um deles faça detonar o outro.

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