O título desta primeira obra de Clara Roquet (Barcelona, 1988) — e foi a cineasta que o disse aquando da estreia de “Libertad” na Semana da Crítica de Cannes 2021 — inspirou-se nas travessuras da personagem homónima inventada por Quino para a BD “Mafalda”. Dentro do filme, é nome com outro significado. É que Nora (Maria Morera), de 14 anos, já disse adeus à infância quando a história começa. Nora é a filha mais velha de uma família abastada de Barcelona a cumprir férias de verão na belíssima casa que eles têm na Costa Brava. Sente-se presa nas dúvidas deste tempo de passagem, fala pouco, faltam-lhe confidentes. A mãe, Teresa (Nora Navas), mal se dá conta do que a filha atravessa, sabe-se depois que tem a cabeça noutro lugar. A avó, madame de finíssimo trato e dona do paradisíaco domicílio (chama-se Ángela, é um papel superior de Vicky Peña) sofre de Alzheimer em estado avançado e também não pode ajudar a miúda.
Mas tudo muda para Nora quando Rosana (Carol Hurtado), a empregada latino-americana que cuida da matriarca doente, recebe debaixo daquele teto a sua filha Libertad (Nicolle García), acabada de chegar da Colômbia. Libertad tem 15 anos e já toda uma experiência de vida que Nora apenas deseja sem ter. Uma é desenvolta com minissaias e rapazes, a outra só olha para eles de soslaio, com inquietação. Nisto, já estalou o coup de foudre que o filme guardará como um delicado silêncio. É que a filha da patroa só tem olhos para a filha da empregada naquele mar de espelhos em que o narcisismo, o desejo e a busca de si mesmo refletem uma imagem confusa.
Artigo Exclusivo para assinantes
Assine já por apenas 1,63€ por semana.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes