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Reportagem no coração da Amazónia: o que se esconde e revela no meio da selva

Reportagem no coração da Amazónia: o que se esconde e revela no meio da selva

Se fosse um país, seria o sexto maior do mundo. Nos cinco milhões de quilómetros quadrados da Amazónia Legal cabem muitos interesses, nem todos legais. Há uma semana, uma cimeira internacional debateu o futuro da região, atraindo os olhares do mundo

O sol mal se levantou e as três pick-ups brancas já rolam a boa velocidade pela BR-364, estrada com mais de quatro mil quilómetros que atravessa o Brasil e liga Porto Velho, capital de Rondónia, a Rio Branco, capital do estado do Acre, aquele que muitos brasileiros julgaram não existir, embalados por uma campanha de desinformação nas redes sociais. Os veículos que circulam por uma geografia aparentemente distante do eixo político e noticioso transportam militares da 17ª Brigada de Infantaria da Selva, a Brigada Príncipe da Beira, nome dado em honra do filho primogénito de D. Maria I. Há dois séculos, aqueles homens iriam a cavalo, agora são motores diesel que os carregam. Destino: participar na Operação Curaretinga, concebida para defender as fronteiras brasileiras, combater o desmatamento e o garimpo ilegal. A base logística da operação foi montada em território indígena dos Karipuna ou “ahé” (verdadeiros), como se autodenominam os menos de duas dezenas de membros de uma comunidade que, segundo o Instituto Socioambiental (ISA), ocupa 153 hectares de terra protegida. Perto dali, a menos de 700 quilómetros, está a fronteira do Brasil com a Bolívia. Na Amazónia, os conceitos de tempo e distância ganham diferentes espessuras e 700 km é considerado perto.

A selva é incómoda, hostil, como uma mulher de olhar intenso a quem não se conhecem os desejos. Não abre os braços, fecha-se sobre si própria, sob a forma de folhas grandes, árvores altas e de lianas, os cipós brasileiros. Quanto mais se fecha, mais atrai. Escorregar no chão vermelho de barro é certo, mas agarrar-se ao tronco das árvores para evitar a queda é desaconselhado, errado mesmo — pode ser o caminho mais curto para se ser alvo de aranhas e escorpiões ou oferecer a própria carne a espinhos agressivos. Chegar até à selva é difícil, exige esforço. A selva não está ao virar de uma esquina, nem no fundo do cartão-postal. É o longe do longe, mesmo quando parece que o longe já foi longe demais. Como Rondónia, o estado de mais de 237 mil km2, uma dimensão equivalente à de Itália, que surgiu há apenas 41 anos e está no canto esquerdo superior do mapa do Brasil.

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