A Revista do Expresso

25 de Abril: os últimos portugueses iguais a nós e a geração que vai reinventar Portugal

23 abril 2023 19:32

José Tavares *

A geração mais nova não viu o antes, nem o durante, nem o imediatamente após o 25 de Abril. Aos 50 anos, é altura de libertá-lo do Estado Novo e amarrá-lo ao futuro

23 abril 2023 19:32

José Tavares *

passado é um país estrangeiro. O futuro também. Enfronhados na rotina do mundo, é fácil esquecermos como, inteiramente alheio às nossas vontades, o tempo se encarrega de fazer do futuro nosso próximo estrangeiro. Acontece a todos, acontece em todos os países, a coisa do tempo. E, no entanto, essa passagem do tempo pode dar saltos espetaculares. Em Portugal, a “geração de Abril” está a desaparecer. Todas as gerações estão a desaparecer, é inexorável, chama-se tempo. No nosso caso, o próximo futuro trará protagonistas e figurantes diferentes. O desaparecimento da geração de Abril será significativo e chega na esteira de um progressivo sentimento de cansaço, estagnação, até de tédio cívico. Por outro lado, a geração de portugueses que se perfila pode trazer à arena cívica nacional novidades significativas. Ou seja, podemos estar hoje na presença dos últimos portugueses iguais a nós.

Estamos a um ano de estarmos a 50 anos do 25 de Abril de 1974. Entre o golpe de Estado de 1926 e a revolução de 1974 decorreu um intervalo de tempo menor do que o se interpõe entre 1974 e 2024, quando dos 50 anos do 25 de Abril. Algumas das categorias, medos, amores e razões de 1974 estão irremediavelmente revestidos da patine pesada do tempo, que desfoca e mascara. Isso não nos deve impedir de olhar para trás e ultrapassar essa distância mental para relevar as mudanças e as constantes desde a revolução. A metamorfose destes 50 anos é incomparável na nossa história. Temos 50 anos de democracia atrás de nós, já é tempo de sermos crescidinhos e não adormecer ao som de sussurros e caricaturas.

*PROFESSOR NA NOVA SBE, DOUTORADO EM ECONOMIA NA UNIVERSIDADE DE HARVARD E AUTOR DO ENSAIO “A EUROPA NÃO É UM PAÍS ESTRANGEIRO”