24 março 2023 23:39

getty images
A população de orca ibérica, que habita entre o golfo da Biscaia e o estreito de Gibraltar, está em vias de extinção. Restam apenas cerca de 50 exemplares. Mas, desses, há 15 que apresentam um comportamento único em todo o mundo e que ninguém sabe explicar nem resolver. Desde 2020 investiram contra 456 veleiros, um terço dos quais ao largo da costa portuguesa, provocando danos nas embarcações
24 março 2023 23:39
inda não era meia-noite quando Miguel Nicolau e quatro amigos saíram do porto de Sines rumo ao Algarve, a 31 de julho de 2022. Tinham estado dois dias no festival Músicas do Mundo e contavam com uma semana de férias pela frente quando surgiu o imprevisto. Já estavam no mar há cerca de uma hora, a seis milhas da costa de Vila Nova de Milfontes, quando sentiram o primeiro embate no veleiro de nove metros. Ao segundo toque, Miguel espreitou e viu uma orca na proa e outra na popa. Resolveu despejar um jerricã de gasóleo pensando que as iria afugentar, sem sucesso. Ouviu outro estalar no leme e pediu a um amigo para verificar se estava tudo bem no interior. O diagnóstico não foi feliz: havia um rombo no casco e a embarcação estava a meter água. Tinham passado pouco mais de 10 ou 15 minutos de contacto com as chamadas “baleias assassinas”. O temor ficou no ar, mas as orcas nunca fizeram mal a um ser humano em ambiente selvagem.
“Pedimos ajuda por rádio, chamei os meus amigos para a balsa e tive tempo de ir buscar um very light”, conta Miguel Nicolau. Com os amigos no barco de borracha, voltou ao interior do veleiro para apanhar os documentos “já com água pelo pescoço”. Na escuridão da noite, no meio do mar, esperaram que a ajuda chegasse. No grupo estava uma criança de cinco anos, cuja curiosidade a levava a dizer que queria “ver as baleias”. Sem barulho de motores ou agitação, o grupo de orcas desapareceu e, ao fim de uma hora, os náufragos foram socorridos por um barco de pesca que os levou para terra firme. “Foi um valente susto”, confessa Miguel Nicolau. Ficou sem barco, ainda hoje afundado a 100 metros de profundidade, a seis milhas da costa alentejana.