
O descer do véu censório sobre os frescos de Júlio Pomar concebidos há 75 anos para o Cinema Batalha, no Porto, devolve a memória histórica e acrescenta um mar de dúvidas e interrogações
O descer do véu censório sobre os frescos de Júlio Pomar concebidos há 75 anos para o Cinema Batalha, no Porto, devolve a memória histórica e acrescenta um mar de dúvidas e interrogações
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Correram lágrimas ao surgirem os primeiros sinais dos frescos de Júlio Pomar no Cinema Batalha. A força da emoção impossibilitou alguns de permanecerem no átrio onde camadas de tinta os tinham enterrado num passado julgado eterno. Agora já visíveis em todo o seu esplendor, renascidos em muito bom estado de conservação, apenas com ligeiras partes danificadas, mas restauráveis, os murais suscitam uma intrigante sucessão de interrogações.
De quem partiu a ordem para tapar aqueles frescos mais de um ano após a inauguração da sala, ocorrida no dia 3 de junho de 1947? Por que razão julgava o autor estar aquele trabalho perdido para sempre, convencido de que as paredes teriam sido picadas de modo a destruir a obra? Como se explica a ousadia contida na encomenda de dois murais a um jovem oriundo de Lisboa, então com apenas 20 anos, a frequentar aulas dos 1º e 2º anos da Escola de Belas Artes do Porto, onde ainda não tivera qualquer aula de pintura e cuja experiência com fresco se resumia a um pequeno trabalho efetuado durante a IX Missão Estética de Férias realizada em Évora? Qual a dimensão da obra e participação na vida cultural portuense de um pintor com curta, mas influente, passagem pela cidade? São muitas as perguntas à espera de resposta suscitadas por uma obra cuja qualidade e importância vai exigir continuados estudos e investigações para que nova luz se faça sobre um processo demasiado tempo mantido na sombra.
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