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Salgueiro Maia: toda a história do homem que abraçou a revolução

saudade Natércia Maia em 2014, 40 anos depois da revolução, com uma das mais simbólicas fotos do marido nesse dia: Fernando Salgueiro Maia em primeiro plano, o amigo Delfim Tavares de Almeida de farda e capacete, e o aspirante Laranjeira que, vestido à civil, fez viagem de Santarém para Lisboa à frente da coluna para ver se o caminho estava livre
saudade Natércia Maia em 2014, 40 anos depois da revolução, com uma das mais simbólicas fotos do marido nesse dia: Fernando Salgueiro Maia em primeiro plano, o amigo Delfim Tavares de Almeida de farda e capacete, e o aspirante Laranjeira que, vestido à civil, fez viagem de Santarém para Lisboa à frente da coluna para ver se o caminho estava livre
ALFREDO CUNHA

A morte precoce da mãe ditou-lhe a voz de comando e a corajosa rebeldia de se afirmar como defensor da justiça e dos mais fracos. Gostava de mandar e de ser o centro das atenções desde miúdo, porque esse era o único placebo que conhecia para camuflar a tristeza de ser um órfão sem irmãos

história da revolução também se conta em abraços, e o abraço que Daniela dá a Tomás é “um abraço que abarca este mundo e o outro, o abraço que ela nunca deu ao avô, que não conheceu”, conta-nos o ator Tomás Alves. Daniela tem 18 anos e é a neta de Fernando José Salgueiro Maia, o capitão que viu morrer a mãe quando tinha 4 anos, que cresceu entre “o apelo da ordem e a rebeldia, e com quem Portugal tem uma dupla dívida: ter conduzido os homens de Santarém até Lisboa e ter vencido sem combater”, diz Carlos Matos Gomes, amigo de Maia desde os tempos da adolescência, quando ambos eram alunos do Colégio Nun’Álvares de Tomar e, mais tarde, capitão de Abril como ele.

Daniela e Matos Gomes são dois dos elos que cruzam a ficção biográfica do filme “Salgueiro Maia — O Implicado” com a vida (real) do capitão que é o rosto da Revolução dos Cravos, e que morreu cedo demais, com a mágoa de se sentir destratado pela hierarquia militar. Matos Gomes é mencionado no filme uma única vez, Daniela é a jovem mulher que abraça o ator Tomás Alves no Largo do Carmo e lhe oferece um único cravo: “Fui ver o filme com a minha avó e levei uma amiga. A minha avó chorou, a minha amiga também, e eu choro sempre [riso nervoso]. O filme é muito giro para o pessoal da minha idade, não digo isto por ser sobre o meu avô, mas por mostrar a vida do homem como ele era antes e depois do 25 de Abril e não como se ele tivesse vivido só para fazer o 25 de Abril. Descobri uma parte do meu avô quando começaram a preparar o filme e vieram cá a casa. Andámos a mexer em coisas que estavam guardadas, encontrei uma máquina fotográfica que era dele e que por vezes uso. Encontrei uma caixa de slides, levei o projetor para o quarto e passei uma noite a vê-los. Tudo isto, fez com que percebesse melhor o meu avô.”

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