Há 10 anos que o número de portugueses com médico de família não era tão baixo
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
Como foi previsto no início do verão pelos representantes dos médicos, as mudanças no regime de recrutamento atrasaram a entrada de 400 jovens especialistas e, chegado o mês de setembro, algumas ULS ainda nem sequer abriram concursos para acolher mais profissionais, que poderiam aumentar a cobertura do sistema
O número de pessoas com médico atribuído num centro de saúde já não era tão baixo desde 2014: em agosto de 2024 eram 8 milhões e 739 mil pessoas, ligeiramente abaixo dos 8 milhões e 744 mil registados no final de 2014, assinala o Público, citado os dados da base “Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários”.
Assim, o número de cidadãos sem médico de família está a crescer pelo menos desde fevereiro deste ano e, em agosto, havia um milhão e 675 mil pessoas sem cobertura nos cuidados de saúde primários. Desses, a maioria reside na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde 30% dos habitantes se encontram nessa situação. Na mesma data, eram 5327 os médicos de família a fornecer cuidados de saúde de proximidade no país.
A alteração das regras no recrutamento dos médicos – com o Governo a decidir alterar o procedimento e a passar de concursos centralizados e nacionais para um recrutamento mais autónomo pelas 39 Unidades Locais de Saúde – levou a um arrasto dos concursos e ao consequente atraso da entrada dos novos profissionais nos centros de saúde, incluindo de 400 novos médicos que acabaram a formação na especialidade este ano. Para os responsáveis das associações de médicos e para os sindicatos na área, os atrasos eram esperados e há vários meses que a mudança repentina no processo de recrutamento foi criticada, recorda ainda o diário.
Em junho, a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) acusou o Ministério da Saúde de alterar o regime de recrutamento “de forma apressada e desprovida de qualquer rigor”. “Esta atitude prejudicará o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e atrasará a colocação de médicos recém-especialistas”, alertou a federação, juntando-se ao coro de críticas às novas medidas para o recrutamento de médicos.
SNS tem 904 vagas nos centros de saúde e 1256 nos hospitais para especialistas
Existem ainda preocupações com os jovens médicos que se especializaram e que continuam sem serem colocados. Estes 400 jovens acabaram a formação na especialidade, mas continuam a receber como internos, e a demora na atualização da sua situação no Sistema Nacional de Saúde pode fazer estes profissionais procurar o setor privado ou, eventualmente, o estrangeiro (mais um fator que tem dificultado o trabalho do SNS em reter profissionais de saúde no setor público).
O Público aponta que, à data, ainda há unidades locais onde os concursos ainda nem sequer abriram – no recrutamento do ano passado, os médicos já estavam todos colocados pelo mês de julho.