Prémio Nacional Turismo

Saúde e bem-estar potenciam novos negócios turísticos

100 milhões de euros anuais é quanto se espera alcançar com o turismo médico até 2025
100 milhões de euros anuais é quanto se espera alcançar com o turismo médico até 2025
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Tendências. Turismo médico pode gerar 100 milhões de euros por ano, mas ainda dá os primeiros passos de forma organizada. As áreas de saúde e bem-estar lideram a procura

Saúde e bem-estar potenciam novos negócios turísticos

Dora Troncão

Jornalista

O conceito de turismo de saúde vai além do procedimento médico. Engloba expe­riências de bem-estar, hotelaria, passeios, nutrição, retiros e contacto com a natureza, elementos que contribuem para a prevenção e cura. Tem subjacente o turismo médico, relevante para atrair mercados internacionais, cujas viagens são motivadas pela procura de um serviço médico. É reconhecido o potencial de ambos, mas a ideia de transformar o turismo médico numa alavanca para o turismo de saúde é ainda um trabalho em progresso em Portugal. Joaquim Cunha, diretor-executivo do Health Cluster Portugal (HCP), organização para a promoção do turismo médico, pormenoriza que a ideia de criar oferta turística “com prestação de cuidados, hotel, transfers e divertimento para os acompanhantes está desatualizada, porque a experiência diz que o cliente coloca todo o foco em encontrar o que procura — sobretudo o médico — numa referência que corresponda às suas necessidades”. Para receber quem se desloca a Portugal com este objetivo, os grupos de saúde parceiros do HCP — grupo José de Mello Saúde/CUF, Luz Saúde e Lusíadas, que representam 80% da oferta privada de hospitalização — já criaram estruturas próprias de acolhimento.

Eve Jokel, diretora do International Patient Services (IPS) da Luz Saúde, concorda: “Nunca sentimos existir interesse em pacotes que incluam hotel, transporte, serviços de concierge ou passeios”, mas assinala “um crescimento de clientes internacionais em linha com o aumento de estrangeiros no país e novos residentes”. Lisboa tem a maior concentração de turistas e residentes estrangeiros, representando “mais de 50% do total de clientes internacionais da rede Hospital da Luz, provenientes principalmente de Angola, Brasil, França, China e Itália”, detalha.

€100 milhões por ano

A ambição para o turismo médico em termos de volume de negócios foi anunciada em 2019, aquando da assinatura do protocolo de colaboração entre a HCP, AICEP, Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) e Turismo de Portugal: €100 milhões anuais até 2025. Joaquim Cunha reitera que o valor “continua a ser um objetivo”, sem assumir uma meta temporal, já que o caminho ascendente foi interrompido pela pandemia.

No Porto, a Clínica Espregueira — Dragão registou em 2022 um aumento de clientes de 15% face ao ano anterior. Já atendeu pessoas oriundas de 70 países que procuram tratamentos médicos e cirurgia deslocalizada e deve o sucesso à especialização e à acreditação: “A clínica é referenciada em todo o mundo como centro cirúrgico do sistema locomotor”, refere o diretor, João Espregueira Mendes. Faz a ponte para o turismo de saúde com uma atenção: “Todos os pacientes contam com a oferta de visita guiada antes da cirurgia, para relaxar, conhecer costumes e tradições e saborear a gastronomia local.”

Em Alvor, no Algarve, Nazir Sacoor, CEO do Longevity Wellness Worldwide, também recebe maioritariamente estrangeiros. Correspondem a 82% dos clientes do Longevity Health and Welness Hotel e procuram “programas integrados de relaxamento, emagrecimento, reequilíbrio energético ou saúde da mulher”, entre outras propostas, com enfoque “na prevenção da doença e regeneração da saúde através de um dia­gnóstico diferenciado, desintoxicação e depuração do organismo e medicina anti-aging”, complementados por “soluções em meio hospitalar (no Hospital do Alvor), como check-ups completos, reabilitação desportiva e física e cirurgia plástica, na ótica do turismo médico”.

Interior oferece projetos inovadores

A meia hora da serra da Estrela, o New Life, em Folgosinho, no concelho de Gouveia, é fruto de “uma procura crescente do mercado europeu por turismo relacionado com a saúde física e mental, para aliviar stresse, prevenir e tratar burnouts, auxiliar na transição de vida, melhorar o bem-estar e qualidade de vida”, afirma Luís Cunhal, managing director do centro de bem-estar. Oferece uma proposta integrada, que consiste no contacto com a natureza, entre arvoredo e ar puro, estada, atividades, acompanhamento médico, reeducação nutricional e retiros de silêncio. Em 2022, a procura cresceu 5% a 10% face ao ano anterior, com o Reino Unido, a Alemanha, os Países Baixos e a Bélgica a destacarem-se como principais mercados. Os programas de tratamento mais extensos, de 28 noites, são os mais requisitados.

Vítor Leal, presidente da Associação das Termas de Portugal, fala “numa preocupação com o ambiente que leva os turistas a procurar destinos menos massificados e contacto com a natureza”. Apesar de a procura internacional pelo termalismo ser residual (10%, sobretudo espanhóis e franceses), “esse público está a chegar gradualmente ao interior” e “com as campanhas e políticas de estruturação dos produtos destes destinos ligados à oferta hoteleira, que está a ser requalificada, como o Vidago Palace e as Pedras Salgadas, estâncias termais ao nível do melhor que existe na Europa, o mercado externo vai aumentar”.

Nuno Fazenda, secretário de Estado do Turismo, aponta para o trabalho que tem vindo a ser feito de “ligação entre os vários atores no domínio das infraestruturas de equipamento de saúde, conjuntamente com o sector de turismo, que nos permite olhar para a diversificação da nossa oferta turística e também para se atingirem novos segmentos”, num sector, como o turismo de saúde e bem-estar, que considera “uma das prioridades da Estratégia Nacional de Turismo”. Para o governante, o desafio passa por “ganhar escala e notoriedade no turismo de saúde, um segmento que pode ser um contributo importante para diversificação da oferta e procura turística para a coesão territorial e para atenuar a sazonalidade”.

PNT COM RECORDE DE CANDIDATURAS

  • A primeira fase da V edição do Prémio Nacional de Turismo fica marcada pelo maior número de candidaturas de sempre, desde o início, em 2019. Até 31 de maio de 2023 foram recebidas e validadas 768 candidaturas, com a maior fatia a incidir na categoria de Turismo Autêntico (247), logo seguida do Turismo Gastronómico (236) e do Turismo Sustentável, que recebeu 112 candidaturas, quase tantas como o Turismo Inovador (108). Por último, foram 65 os projetos candidatos à distinção na área do Turismo Inclusivo.No que respeita à localização, Porto/Norte destaca-se como a região de onde são provenientes mais projetos (194), logo seguida do Centro, com 145 projetos, e de Lisboa, que candidatou 139. Alentejo (91), Algarve (78), Açores (61) e Madeira (60) completam o total de candidaturas recebidas. Segue-se agora a fase de avaliação, que decorre até 31 de setembro, e de reuniões de comité e júri. Os vencedores do Prémio Nacional de Turismo 2023 são conhecidos em dezembro.

TUDO O QUE TEM DE SABER SOBRE O PNT

O QUE É

  • O Prémio Nacional de Turismo (PNT) destaca os melhores e dá visibilidade a projetos com valor no sector do turismo em Portugal. Turismo Autêntico, Turismo Gastronómico, Turismo Inclusivo, Turismo Inovador e Turismo Sustentável são as categorias premiadas. A iniciativa do Expresso e do BPI conta com o alto patrocínio do Ministério da Economia e da Transição Digital, o apoio institucional do Turismo de Portugal, IP e com o apoio técnico da Deloitte.

DATAS MAIS IMPORTANTES

  • Avaliação: 1 junho a 31 de julho
  • Reunião de comités e júri: outubro
  • Entrega de prémios: dezembro Acompanhe tudo AQUI

PRÉMIO NACIONAL DE TURISMO

O Expresso e o BPI, em parceria com o Turismo de Portugal e a Deloitte, promovem pelo quinto ano consecutivo o Prémio Nacional de Turismo (PNT), uma iniciativa para promover, incentivar e distinguir as melhores empresas, práticas e projetos do sector.

Textos originalmente publicados no Expresso de 16 de junho de 2023

“Portugal é hoje um destino global e aberto à aventura”: chegou a Portugal em 2001 para dirigir o Vila Joya, à época um dos primeiros oásis de luxo do Algarve. Quatro anos depois, mudou-se para Cascais, para ocupar o cargo de diretora-geral da Fortaleza do Guincho. Nascida na Alemanha, é uma testemunha privilegiada das mudanças profundas na oferta turística nacional e observadora atenta das novas tendências. “Portugal é hoje um destino global e aberto à aventura. É seguro. É um país autêntico e original, com uma herança patrimonial e histórica, mas também avançado e ativo no mundo digital”, garante Petra Sauer. Perante todas estas mudanças, defende “um maior investimento e apoio na educação”, em benefício da próxima geração, referindo a importância da criação de escolas de formação em turismo de referência internacional, “atrativas para os jovens e, ao mesmo tempo, exigentes nos temas do ensino”. Outra grande mudança destas duas últimas décadas é a importância das novas tecnologias em todas as áreas do sector turístico. Uma vantagem que deve ser aproveitada, já que “permite conhecer cada vez mais e melhor o cliente com antecedência” e, consequentemente, “gerar programas de fidelização e plataformas digitais” com o perfil do utilizador aliado às suas preferências, das atividades à gastronomia. Desta forma, as equipas podem “dedicar mais tempo ao hóspede, tornando a experiência mais pessoal e feita à medida”, conclui
João Girão

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