“É preciso evoluir para a autenticidade”

20 anos: em duas décadas, o turismo em Portugal mudou radicalmente e tornou-se um dos motores da economia. O futuro do sector já chegou, mas a formação ainda não se adaptou à nova realidade
20 anos: em duas décadas, o turismo em Portugal mudou radicalmente e tornou-se um dos motores da economia. O futuro do sector já chegou, mas a formação ainda não se adaptou à nova realidade
Há 20 anos, todo o sector turístico nacional estava longe de prever a importância desta atividade para o desenvolvimento e economia do país. O Expresso decidiu editar o primeiro “Livro da Boa Cama e da Boa Mesa”. Publicado anualmente e ininterruptamente desde 2003, o agora “Guia Boa Cama Boa Mesa” acabou por se tornar o espelho da evolução da hotelaria e da restauração nacionais. O turismo progrediu, adaptou-se, acompanhou tendências, sofreu os impactos de diversas crises e até ganhou o estatuto de “resiliente”. Hoje é um dos motores da economia portuguesa e o mérito pode ser reconhecido através dos alojamentos e restaurantes que, ao longo de duas décadas, marcaram presença em todas as edições do referido guia.
A prova de tamanha proeza é indissociável da defesa da autenticidade. António Gonçalves é, desde 2014, o responsável pela gestão da Pousada de Bragança, ao abrigo de um acordo com o grupo Pestana. Filho da cidade, desenvolveu, com o irmão, o chefe Óscar Geadas, um projeto diferenciador e assente nos valores da região, da cultura aos produtos autóctones. Apesar de reconhecer o destino como “exótico” aos olhos dos turistas, António Gonçalves explica que o segredo está em oferecer “autenticidade, que é aquilo que as pessoas querem experimentar”, complementada com “contemporaneidade e a arte de bem receber”.
Já Pedro Nunes, fundador do restaurante São Gião, em Moreira de Cónegos, no concelho de Guimarães, resume a aposta a fazer no turismo em Portugal também na ideia de que “é preciso evoluir para a autenticidade”, em detrimento da massificação, que classifica como “um pau de dois bicos”. Neste contexto, defende a aposta nos turistas de “classe mais alta ou de elite”, que valorizam e remuneram melhor a oferta existente.
O padrão de qualidade do produto e do serviço são pontos fortes do Fialho, em Évora, presente em todas as edições do “Guia Boa Cama Boa Mesa” desde 2003. Considerando a massificação turística como “demolidora”, Rui Fialho, a terceira geração na liderança do restaurante, confia na autenticidade dos produtos e do receituário alentejano como primado para o sucesso: “Não quero alterar a nossa matriz, o modelo dos nossos antepassados, por isso mantemos os pratos feitos lentamente e à moda antiga.” Octaviano Martins, que gere o restaurante A Escola, em Alcácer do Sal, reforça a necessidade de “não perder a identidade e servir ao turista o que é da região, como o sal, o arroz, o vinho, o pinhão, o tomate ou a batata-doce”.
Preparar o futuro e apostar na formação
“Oferecer o que de melhor a região tem, através da gastronomia, experiências e atividades culturais”, é o caminho de sucesso para o turismo nacional, aponta Kurt Gillig, diretor-geral do premiado resort algarvio Vila Vita Parc. Com os olhos postos no futuro, não tem dúvidas em afirmar que, “se hoje já se nota a procura pelo contacto com as raízes e com a natureza, dentro de 20 anos essa necessidade de evasão para recarregar e fugir a um mundo imediato e tecnológico será ainda maior”. Para garantir o futuro é preciso preparar e formar os recursos humanos, uma das áreas mais delicadas no turismo nacional, e é neste contexto que ganha cada vez mais importância a criação de uma escola internacional de referência. Um “sonho” de Kurt Gillig, para quem “a teoria tem de ser acompanhada por uma forte componente prática de qualidade, para que se alarguem os horizontes sobre o que é de facto trabalhar no turismo”. António Gonçalves especifica: “O mundo não pode ficar robotizado, por isso temos de fazer um investimento efetivo na área dos recursos humanos e criar disciplinas ligadas à psicologia do trabalho e dos clientes.”
Afonso Tavares da Silva, CEO do grupo Leacok, proprietário da Quinta da Casa Branca, no Funchal, Madeira, salienta, por sua vez, a questão “dos horários de trabalho e exigências próprias de uma atividade que funciona de forma ininterrupta”, tornando o “sector menos atrativo para as novas gerações”. Defende a “urgente valorização da carreira e o investimento em formação” como travões da descaracterização da hospitalidade. Na lista das soluções, elenca a necessidade de “criar condições para a evolução na carreira, com planos bem definidos, melhores condições salariais, prémios de produtividade e seguros privados de saúde”.
Com cerca de 1000 sugestões, e já em pré-venda, o “Guia Boa Cama Boa Mesa 2023” vai estar disponível nas bancas a partir do dia 31 de março. Entre novidades e prémios, a edição especial ‘20 Anos’ distingue o mérito dos 37 alojamentos e restaurantes, que se mantiveram ininterruptamente no “Guia” desde 2003.
O Prémio Nacional de Turismo (PNT) distingue empresas, projetos públicos e personalidades. Para 2023 uma novidade: o Prémio Personalidade, que substitui o Prémio Carreira. As candidaturas decorrem até 31 de maio de 2023.
Turismo Autêntico: destacar projetos que valorizam os recursos endógenos, descentralizam e mitigam a sazonalidade.
Turismo Gastronómico: premiar projetos que apostam na valorização de produtos endógenos, promovendo a gastronomia local e regional.
Turismo Inclusivo: eleger projetos que fomentam a confiança e empatia do consumidor; fidelização; inclusão e obtenção de feedback por parte do utilizador.
Turismo Inovador: premiar projetos que desenvolvam inovação a nível da oferta turística e do modelo de negócio, utilizem o digital para comunicar, distribuir e vender; promovam parcerias de cross-selling e utilizem business intelligence para a promoção do alcance e eficiência do negócio.
Turismo Sustentável: distinguir projetos que promovam o uso eficiente dos recursos, incentivam um turismo responsável e implementam medidas e práticas que visem a redução e compensação da pegada ecológica.
Candidaturas: até 31 maio
Avaliação: 1 junho a 31 de julho
Reunião de comités e júri: setembro e outubro
Entrega de prémios: novembro
Para se habilitar a vencer o PNT apresente a sua candidatura até 31 de maio. Saiba mais AQUI
Prémio Nacional de Turismo
O Expresso e o BPI, em parceria com o Turismo de Portugal e a Deloitte, promovem pelo quinto ano consecutivo o Prémio Nacional de Turismo (PNT), uma iniciativa para promover, incentivar e distinguir as melhores empresas, práticas e projetos do sector.
Textos originalmente publicados no Expresso de 24 de março de 2023
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