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Miguel Arruda recusa obedecer a Ventura e fica como deputado não-inscrito

Miguel Arruda recusa obedecer a Ventura e fica como deputado não-inscrito
José Fonseca Fernandess

O líder do Chega disse que as explicações dadas pelo deputado do Chega "não são esclarecedoras" e que "há factos perturbadores" nas suspeitas sobre as malas apreendidas nas casas de Miguel Arruda

Miguel Arruda recusa obedecer a Ventura e fica como deputado não-inscrito

Hélio Carvalho

Jornalista

Miguel Arruda, o deputado do Chega suspeito de ter furtado várias malas nos aeroportos de Lisboa e Ponta Delgada, vai mesmo abandonar o partido de extrema-direita e passar à condição de deputado não-inscrito. A informação foi avançada durante a tarde pela “TVI” e “CNN Portugal”, e confirmada pelo Expresso, tendo o deputado acabado por dar conta da sua decisão após reunir com André Ventura no Parlamento, que não gostou, mas não conseguiu impor a sua vontade.

O encontro entre o deputado e o presidente do Chega esta quinta-feira à tarde foi breve. Entre a entrada e saída de ambos da sala do grupo parlamentar, não passaram mais de 45 minutos. Pouco depois do início da reunião, Miguel Arruda anunciou que iria manter a decisão de se manter no Parlamento, depois de uma conversa “excelente”, “franca” e “muito agradável” com Ventura, onde lhe transmitiu a sua “inocência” e a decisão de passar a não-inscrito, disse aos jornalistas no final do encontro.

“Tomei uma decisão de modo a proteger a imagem do partido", disse. Questionado se sair do Parlamento não protegeria mais o partido, Arruda respondeu: "Foi-me dada essa oportunidade [de renunciar] pelo presidente", mas depois respondeu, com alguma incoerência, que achou que "para reafirmar" a sua "inocência como cidadão normal" tinha decidido "não estar conotado com qualquer tipo de partido". Ora, a questão era o porquê de não ter saído do Parlamento como Ventura queria e não ter saído do partido, desfiliando-se.

Reafirmou que os detalhes que saíram sobre si são infundados e que “as provas têm de ser mostradas em tribunal”. “Como estamos num Estado de Direito, uma pessoa só é condenada e julgada no sítio certo”, disse, acrescentando que dorme “descansado e de consciência tranquila”. E apesar de confessar um certo desconhecimento sobre o processo de levantamento de imunidade parlamentar, que deve ser iniciado pelo tribunal, garantiu que está pronto para que o mesmo avance. “Passo a independente única e exclusivamente para proteger o meu partido de possíveis ataques”, reiterou.

Poucos minutos depois, foi a vez de André Ventura, que se mostrou claramente descontente com a ideia de Arruda manter o seu mandato como deputado não-inscrito. Ventura considerou que as explicações dadas pelo ainda membro do Chega “não são esclarecedoras” e admitiu que “há factos perturbadores”, nomeadamente os que terão sido captados por câmaras de videovigilância nos aeroportos. Assim, o Chega passa a ter uma bancada oficial de 49 parlamentares e Arruda não pode ser substituído pelo próximo candidato do Chega pelos Açores.

“Acredito que possam ser algumas malas dele, a PSP certamente não se teria mobilizado para ir numa operação policial a casa para tratar de descobrir isso. Mas eu não tenho de acreditar nem de deixar de acreditar [em Miguel Arruda], eu não vivo a política em estados de alma”, disse Ventura, deixando claro que deve pôr “a consciência do Chega acima de quaisquer amizades pessoais”. "Tomadas de decisões contra aquilo que me parece ser o bom senso partidário teria que levar a uma ação disciplinar”, afirmou Ventura, algo que não precisará fazer dado que Arruda se desfiliou do Chega.

Antes da reunião, já o líder do Chega tinha atirado uma farpa ao PS e PSD por permitirem a continuidade de “deputados arguidos e condenados” (apesar de outros deputados do Chega, como o próprio líder, Marcus dos Santos ou Filipe Melo, terem sido acusados de diferentes crimes e ou terem passado por processos na justiça). E notou que o deputado do PSD Carlos Silva Santiago, que em novembro atropelou uma criança quando estava sob o efeito de álcool, continua no Parlamento, apesar de ser alvo de um inquérito. “Não vi a preocupação de todos sobre o que iria acontecer ao deputado. No Chega, não há a possibilidade de ficar escondido”, rematou.

O futuro político de Miguel Arruda foi fruto de grande especulação nos últimos dias e fez o político de São Miguel saltar para a ribalta, ainda que talvez não fosse da forma que preferisse. Como deputado, é mais conhecido pelo Parlamento pelos seus comentários ruidosos durante as sessões no plenário, vindos das filas de trás da bancada do Chega.

Apesar de Ventura mostrar que queria que Arruda renunciasse ao seu mandato, este optou por ficar no cargo. Abandonando o partido e ficando no Parlamento como deputado não-inscrito, uma situação semelhante à que foi experienciada em anos recentes por Joacine Katar Moreira (Livre), Joaquim Pinto Moreira (PSD), Paulo Trigo Pereira (PS) ou Cristina Rodrigues (ex-PAN, agora do Chega).

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hcarvalho@expresso.impresa.pt

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