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Diretores demissionários da Global Media acusam administração de desvalorizar ativos e dar números falsos sobre circulação

Rosália Amorim e Inês Cardoso, diretoras demissionárias da TSF e do JN
Rosália Amorim e Inês Cardoso, diretoras demissionárias da TSF e do JN
FILIPE AMORIM/ Lusa

Em relação aos salários, as direções dizem não ter qualquer previsão de pagamento por parte da Administração. Quanto ao subsídio de Natal deverá ser pago em duodécimos. “O estado do grupo Global Media é preocupante e estão em causa 200 postos de trabalho", alertou Rosália Amorim

Diretores demissionários da Global Media acusam administração de desvalorizar ativos e dar números falsos sobre circulação

Liliana Coelho

Jornalista

Não há qualquer previsão para o pagamento dos salários dos trabalhadores do Global Media Group (GMG), nem intenção conhecida de o grupo acionar o Fundo de Garantia Salarial. Quem o diz são os diretores demissionários do “Jornal de Notícias”, ”O Jogo", TSF e Dinheiro Vivo, que foram ouvidos esta quarta-feira na Comissão de Cultura e Comunicação no Parlamento, e acusam a administração de desvalorizar as marcas e dar números falsos sobre a circulação.

Em causa está o facto de administração do GMG, que detém o “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias”, TSF e O Jogo, ter anunciado que não tem condições para pagar os salários do mês de dezembro aos funcionários, que convocaram, entretanto, uma greve para o próximo dia 10. “Em relação aos salários não temos qualquer previsão por parte da Administração. Quanto ao subsídio de Natal foi-nos dito que devia ser pago para o ano em duodécimos, mas relativamente ao salário de dezembro não tinham qualquer data para nos indicar”, explicou Rosália Amorim, diretora de informação da TSF demissionária.

No passado dia 28, os diretores dos quatro órgãos de comunicação social pediram um fundo social para ajudar os trabalhadores que atravessam dificuldades, mas a resposta da administração foi que não havia dinheiro. “Não obtivemos sucesso na nossa diligência”, frisou Rosália Amorim.

Afirmando que o que a levou a aceitar o cargo de direção na TSF há três meses foi a “condição de investimento” e “10 contratações”, a jornalista reconheceu que com o novo enquadramento de cortes deixou de haver condições para o projeto: “Vejo o futuro da rádio muito comprometido, é impossível funcionar com menos 50% dos recursos humanos”, notou ainda, apontando para a dificuldade em garantir os turnos da noite, “O estado do grupo Global Media é preocupante e estão em causa 200 postos de trabalho. E está em causa também o jornalismo, tal como o conhecemos, e a liberdade como pilar da democracia”, insistiu.

Tem havido uma “desvalorização das marcas” de media através das declarações que surgem na comunicação social, apontou ainda Rosália Amorim, em linha com a diretora demissionária do “JN”, Inês Cardoso, que admitiu que foram confrontados com espanto com os dados sobre a circulação paga: “Há um discurso de ataque direto e desvalorização do título que não consigo compreender. Não conheço situações em que os CEO das empresas venham para o mercado dar números incorretos para baixo, ou seja, para agravar a situação da empresa”, observou, apontando para o facto de a comissão executiva ter anunciado esta terça-feira que o “JN” sofreu uma “queda de vendas em banca de cerca de 12,8%”, o que corresponde a cerca de 2 mil e 200 exemplares diários, quando os dados do terceiro trimestre indicam uma circulação paga impressa de 19.327.

“Em relação ao fundo [financeiro que controla o grupo] muitas das vossas perplexidade são nossas”, confessou Inês Cardoso, garantindo que os diretores demissionários vão sabendo apenas o que vai surgindo na comunicação social, sem direito a informação privilegiada sobre quem são os acionistas. “Temos muitas dúvidas a olhar para as empresas, o puzzle que está disponível na ERC. A questão do escrutínio da ERC parece-nos ser um dos aspetos a rever”, defendeu a diretora do jornal portuense. Inês Cardoso deu ainda dados sobre os colaboradores do grupo, que a administração deu ordem para dispensar, argumentando que cumprir essa ordem seria uma “machadada” na mais-valia que o JN representa.

Também Vítor Santos, diretor demissionário de “O Jogo”, admitiu rever-se nas declarações de Inês Cardoso e insistiu que o seu título tem uma implantação forte do “Minho ao Algarve” e com “resultados extraordinários” também no digital. “Nós preocupámo-nos sempre muito com a sustentabilidade do título. É impossível aceitar que podemos ser ainda menos, porque já somos poucos. Estamos a trabalhar acima das nossas forças”, lamentou.

Para Bruno Contreiras Mateus, diretor demissionário do Dinheiro Vivo, os quatro orgãos de comunicação não podem correr o risco de falhar no dever de “informar com qualidade”, sendo que o “corte de investimento” anunciado leva a que as marcas tenham um “futuro muito condicionado”.

Os diretores demissionários do "Jornal de Notícias”, ”O Jogo", TSF e Dinheiro Vivo foram ouvidos esta manhã no Parlamento, após o DN e TSF terem estado mais de um dia sem atualizações nos seus sites e ser traçado um cenário negro sobre a situação financeira do grupo. A Comissão Executiva do GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou ontem que o grupo tem dívidas ao Estado ( Segurança Social e Autoridade Tributária) de cerca de 7,5 milhões de euros.

Na quinta-feira, o ministro da Cultura Pedro Adão e Silva manifestou-se preocupado com a crise GMG e lembrou que o grupo pode acionar Fundo de Garantia Salarial.

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