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Governo indica Maria Luís Albuquerque para comissária europeia

Maria Luís Albuquerque no congresso do PSD em novembro
Maria Luís Albuquerque no congresso do PSD em novembro
Ana Baiao

Anúncio feito pelo primeiro-ministro numa declaração em São Bento. Nome era falado nos corredores e responde a desafio de Von der Leyen. Mais do que isso, Montenegro luta agora pela relevância da pasta que será atribuída à antiga ministra das Finanças portuguesa - que há 10 anos esteve quase para ser comissária europeia

Está desfeita a espera: Maria Luís Albuquerque é o nome indicado pelo Governo português para comissária europeia. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro numa declaração esta manhã de quarta-feira na residência oficial.

Assim, Luís Montenegro cumpre a apresentação do nome fora do contexto da rentrée do PSD, que decorre por esta altura em Castelo de Vide, e afasta as críticas de misturar temas partidários com os do Governo de Portugal. No entanto, depois deste anúncio, é esperada a presença e a declaração pública da própria Maria Luís Albuquerque este sábado, na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide.

Sem dar direito a perguntas dos jornalistas, Montenegro justificou a escolha com o “reconhecido mérito profissional, político e cívico” da anterior ministra de Estado e das Finanças do Governo PSD/CDS de há dez anos. Maria Luís Albuquerque foi, antes disso, secretária de Estado do Tesouro, tendo também passado pela Assembleia da República como deputada. “É detentora de qualidades e competências extraordinárias, que vão enriquecer a Comissão Europeia e prestigiar Portugal”, afirmou Montenegro.

Embora tenha sido negociado com “discrição” e “recato”, o anúncio é só uma meia surpresa, já que o nome da ex-ministra corria há muito nos bastidores como um dos mais bem colocados para assumir o lugar, até por se tratar de uma mulher, o que responde ao pedido da presidente da Comissão, Ursula Von der Leyen, de tentar construir um executivo paritário - ainda mais importante numa altura em que a maioria dos países já indicou homens.

Cumprindo esse desejo de Von der Leyen, teoricamente Montenegro ganha margem para negociar uma pasta importante para a comissária portuguesa (a presidente só anuncia a distribuição de pastas a meio de setembro). E essa é agora a nova grande dúvida: o facto de António Costa ter sido nomeado presidente do Conselho Europeu diminui a hipótese de Portugal ter uma pasta relevante? Ou o perfil económico e financeiro de Maria Luís Albuquerque abre espaço para um ‘ministério’ nessas áreas, habitualmente mais disputadas?

Por outro lado, internamente, Maria Luís Albuquerque é uma figura ainda colada ao Governo de Passos Coelho e do PSD durante o período da troika, um momento de que Montenegro tem feito os possíveis para se afastar - e é aí que está a meia surpresa deste anúncio.

A ligação entre Albuquerque e o passismo era vista como um ponto contra a ex-ministra, até porque, mesmo sabendo que se trata de um cargo europeu, estende a passadeira para as críticas da oposição. Montenegro, aliás, já prepara o terreno para isso, respondendo com a “vasta e interessante experiência” de Maria Luís Albuquerque não só em Portugal como “junto das instituições europeias e dos seus protagonistas”.

Portugal fez parte do grupo de países que esperou quase até ao fim para anunciar a proposta de comissário, mas o nome está a ser negociado nos bastidores pelo menos desde junho, aquando das eleições europeias.

Para Montenegro, vem aí um “novo ciclo na União Europeia”, com “desafios enormes na segurança e defesa, com os novos horizontes no alargamento”, que exigem que “cada Estado-membro disponibilize alguns dos seus melhores”. E para o chefe de Governo português, “a dra Maria Luís Albuquerque honra esse perfil”. “Pelo conhecimento direto e pessoal que tenho das suas capacidades, sei que vai honrar Portugal”, disse ainda o primeiro-ministro.

Maria Luís Albuquerque chega assim a comissária europeia dez anos depois de ter sido escolhida por um outro primeiro-ministro para o mesmo lugar. Em 2014, Pedro Passos Coelho queria a ministra das Finanças em Bruxelas, mas recuou à conta da crise no BES. Carlos Moedas veio depois, como o próprio Passos Coelho fez questão de lembrar na apresentação de um livro do hoje presidente da Câmara de Lisboa.

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